Doramas e psicologia: análise de Tudo bem não ser normal

Equipe Eurekka

O drama coreano Tudo bem não ser normal nos apresenta uma história bem amarrada entre três personagens, suas dificuldades e os transtornos psiquiátricos que possuem. A narrativa, apesar de ter partes bem engraçadas, trata de temas muito sérios, por isso é importante discutirmos sobre essas camadas que compõem o dorama.

Dois transtornos dos personagens são o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Personalidade Antissocial, sendo que eles acometem, respectivamente, 1% e 0,2% a 3,3% da população.

Portanto, é muito bom curtir o dorama, mas também prestar atenção às suas nuances psicopatológicas para não reforçar estereótipos comuns a esses transtornos. Além disso, é importante não ignorar os riscos reais para quem os possui, para seus cuidadores ou outras pessoas.

Então, neste texto, vamos relembrar a história do dorama e fazer uma análise psicológica da trama e dos personagens. Assim, você vai se aprofundar mais no enredo e ainda saber mais sobre a Psicologia na vida real e na produção coreana.

Boa leitura!

Ps: contém spoilers.

Resumo da História

Em Tudo bem não ser normal, Moon Sang Tae e Moon Gang-tae são irmãos que vivem juntos após terem sua mãe assassinada na infância. O segundo, mais novo, trabalha como cuidador em hospitais psiquiátricos para sustentar e cuidar de seu irmão mais velho, que tem autismo.

Porém, por conta do medo de borboletas de Sang Tae, que foi desencadeado por uma trauma de infância, Gang-tae sempre dá um jeito para que os dois se mudem de cidade na primavera. Dessa forma, um dia eles acabam se mudando para a cidade da escritora Ko Mun-yeong, de quem Moon Sang é um grande fã.

Assim, os dois irmãos e a escritora acabam se encontrando, e Mun-yeong fica obcecada por Gang-tae, se apaixonando ao conhecê-lo. O rapaz mostra-se resistente a princípio, mas depois corresponde ao sentimento ao conhecer mais a moça.

A partir desse laço, os três personagens principais passam a elaborar seus traumas juntos, repensando o impacto disso nas vidas que levam. Mas é claro que, como um bom drama coreano, existem muitas reviravoltas e emoções intensas nessa jornada.

Análise Psicológica de Tudo bem não ser normal

Tudo bem não ser normal traz uma dimensão psicológica muito influente na sua trama, o que a torna digna de uma análise aprofundada. 

E por aqui vamos falar sobre a definição dos transtornos dos personagens de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os traumas desenvolvidos por eles e seu peso no momento presente dos personagens e, por fim, a importância de uma abordagem científica desses quadros e de um tratamento especializado.

Moon Sang-tae de tudo bem não ser normal
Reprodução

O autismo do personagem Moon Sang-tae

De acordo com o DSM-5, os principais critérios diagnósticos para o TEA são: “Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos” e “ Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades”.

Assim, podemos ver que o comportamento de Moon Sang-tae se enquadra muito bem nesses crítérios. Ele passa a maior parte do tempo em casa e, quando precisa sair para cuidar de coisas referentes à vida adulta, depende de seu irmão. Nessa questão, fica evidente a sua dificuldade de comunicação e interação.

Além disso, Sang-tae repete uma rotina restrita todos os dias. Assiste sempre aos mesmos programas e decora suas falas, cumprindo o segundo critério.

Mas vale ressaltar que existe mais de um grau de autismo, por isso nem todas as pessoas autistas agem da mesma forma que Moon Sang-tae.

A posição de cuidador que Moon Gang-tae assume

Frente ao diagnóstico do irmão, Moon Gang-tae assume que deve viver sua vida em função de Sang Tae. Dessa forma, ele circula entre hospitais psiquiátricos e novas casas de primavera em primavera. 

Com isso, todas as decisões de sua vida giram em torno do seu irmão. E, ao adotar esse estilo de vida, Gang-tae mantém-se alheio a quaisquer objetivos próprios. Mais do que isso, o personagem provavelmente sequer chega perto de desenvolver essas ambições.

De acordo com os princípios da Psicologia Comportamental, Gang-tae distancia-se de uma vida sadia e naturalmente motivadora, porque ele deixa a culpa dominá-lo, uma vez que, quando mais novo, ele desejou que Sang Tae morresse. Assim, faz de tudo para cuidar do irmão e compensar isso.

E claro que não é errado que ele cuide do irmão, muito pelo contrário, é o certo a se fazer. Porém, é como aquele ditado diz: “E quem cuida de quem cuida?“. Nesse ponto, o dorama traz uma forte reflexão sobre os cuidadores de pessoas com transtornos, mostrando que eles também têm suas dificuldades e, muitas vezes, abrem mão da própria vida pelo outro.

ko mun yeong de tudo bem não ser normal
Reprodução

O transtorno de Moon-yeong

Ao longo da série, Ko Mun-yeong apresenta comportamentos agressivos, antissociais e manipuladores. Considerando-se esses traços, a escritora pode ter seu comportamento enquadrado no Transtorno de Personalidade Antissocial.

O DSM-5 cita como principais critérios diagnósticos: “Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade” e “O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade”.

Esses critérios são cumpridos por Mun-yeong quando lembramos a sua agressividade física e verbal (inclusive contra o próprio Gang-tae). Da mesma forma, a sua postura manipuladora em relação a sua editora também reforça essa conclusão.

Mas, por ser uma obra ficcional, não podemos dizer ao certo um diagnóstico. Uma vez que o drama não necessariamente precisa ter um compromisso com a realidade exata.

Os traumas dos personagens

Ademais, os personagens ainda têm de lidar com traumas de infância. Esses acontecimentos lhes causam grande sofrimento ao longo da história e influenciam no seu comportamento até a vida adulta.

Quando criança, Sang Tae presenciou a morte de sua mãe. Pelo choque do momento, ele não consegue lembrar-se do rosto do assassino, com exceção de um broche de borboleta que ele carregava. Devido a isso, o rapaz desenvolveu o fobia de borboletas, de modo que ele perde o controle quando se aproxima de uma e se vê obrigado a mudar de cidade na primavera.

Seu irmão Gang-tae, além de também viver o luto pela mãe, assume muito cedo o papel de cuidador. Afinal, já que sua mãe não estava mais ali, ele assimila que a atenção ao seu irmão deve vir antes de tudo e passa a guiar sua vida assim.

Além disso, como falamos alguns tópicos acima, ainda tem a questão da culpa envolvida, já que o relacionamento entre os dois irmãos era ruim quando a mãe era viva, porque o Gang-tae se sentia negligenciado por ela. Para ele, a mãe só se importava com o irmão autista.

Por sua vez, Mun-yeong foi criada por uma mãe agressiva e abusiva. A mulher rejeitava demonstrações de vulnerabilidade da filha e a incentivava a agir com frieza. Ao crescer, Mun-yeong mantém esse aprendizado.

Além dissso, podemos ver esse trauma de Mun-yeong representado na casa em que ela vive. Um lugar que mais parece um castelo lindo e tenebroso, no qual aconteceram vários eventos importantes e tristes da vida da escritora.

Sendo o maior desses traumas o de ela ter visto o pai matar a mãe. Essas memórias a assombram e fazem com que ela tenha pesadelos quando ela volta para o castelo em que morava com os pais.

O papel da escrita na trama

A escrita, apresentada na trama pelas mãos da escritora Mun-yeong, cumpre um papel narrativo e psicológico no dorama. Não à toa os títulos de cada capítulo são os mesmos de seus livros.

Um exemplo é a obra  “O menino que se alimentava de pesadelos”, obra preferida de Sang Tae. Sua narrativa se baseia num menino que, por conta de um pacto que fez para deixar de ter pesadelos, deveria tornar-se um adulto feliz. Tema similar à trajetória dos personagens do dorama não?

Assim, as produções da personagem vão amarrando-se aos temas da trama. De certo modo, o próprio ato de escrever da autora é uma forma de expressar suas dores, o que nunca lhe foi permitido.

Inclusive, é por isso que os temas e as ilustrações dos livros não parecem nada infantis, já que ela estava retratando ali seus próprios traumas.

Saiba mais: escrita terapêutica

personagens de its ok to not be ok
Repdrodução

A importância do tratamento terapêutico adequado

Por um lado, Tudo bem não ser normal nos mostra a beleza de uma história em que os personagens encontram acolhimento para seus traumas e transtornos no amor. Por outro, esperar que os relacionamentos sejam o melhor lugar para lidar com transtornos mentais pode não funcionar na realidade.

As consequências disso são nítidas na própria obra: 

Gang-tae não encontra um tratamento especializado para seu irmão e por isso se vê restrito a uma vida de cuidador. Inclusive, o fato de eles sempre se mudarem, pode ser até mesmo uma metáfora do ato de fugir de seus traumas ao invés de tratá-los e enfrentá-los.

Já Mun-yeong nunca teve um acolhimento e olhar profissional sobre seu transtorno e seus traumas. Por isso, ela repete os abusos de sua mãe em outras pessoas.

Então, resta a saída mais confiável e eficiente: um tratamento terapêutico adequado. Com ele, o transtorno pode ser tratado, reduzindo o sofrimento do paciente e também daqueles ao seu redor. Além disso, torna-se possível viver uma vida mais leve, tranquila e equilibrada.

O que o dorama Tudo bem não ser normal nos ensina?

Tudo bem não ser normal aborda, de forma romântica e com uma bela estética, temas psicológicos, abrindo espaço para reflexão sobre questões muito relevantes. Nos mostrando, assim, tanto a importância de cuidar da saúde mental, quanto de aceitarmos nossas imperfeições e aprendermos a lidar com elas. Além de mostrar também a importância da rede de apoio.

Nessa lógica, os personagens dispõem de tramas bem resolvidas e entrelaçadas. É claro que, de um jeito fictício e às vezes exagerado, mas de toda forma muito válidas. Com uma chamada para refletirmos sobre traumas, as dificuldades de cuidadores e pessoas que têm transtornos.

Além disso, os personagens aprendem, e nos ensinam, que abrir espaço para seus sentimentos e viver uma vida que seja congruente com eles é possível e desejável. Especialmente, quando há pessoas queridas por perto que dão abertura para que isso aconteça.

Quem escreveu os livros da série Tudo bem não ser normal?

Vale a curiosidade, os livros de Mun-yeong de Tudo bem não ser normal foram escritos pela própria roteirista do dorama, Jo Yong. Ela produziu os livros especialmente para a obra.

As ilustrações são feitas pelo ilustrador Jam San e contém muitas referências ao dorama, como autógrafos e notas de Mun-yeong.

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fundadores da psicoterapia da Eurekka

E por falar em livros ilustrados…

Os livros do dorama, representando a sensibilidade reprimida de Mun-yeong na trama, trazem reflexões valiosíssimas e fortes. Sendo que várias discussões psicológicas durante a obra acontecem pela expressividade do livro.

Assim, em Tudo bem não ser normal, essas obras fictícias podem propor ótimas discussões, mesmo que não sejam criadas por profissionais da saúde mental. Nesse sentido, sem deixar de consumir essas obras fantásticas, torna-se também importante achar fontes de informação especializadas na Psicologia.

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