O experimento de Milgram: limites da autoridade e obediência

Equipe Eurekka

Você já parou para se perguntar quais são os limites da obediência? Será que uma pessoa é capaz de cometer atos brutais por vontade própria ou apenas por estar “seguindo ordens de superiores”? Foi isso que o experimento de Milgram buscou responder.

No texto de hoje, você vai conhecer um dos experimentos mais controversos da história da psicologia e entender melhor como tudo isso aconteceu e quais foram os resultados obtidos. Confira!

foto da caixa elétrica usada no experimento de milgram
A Caixa Elétrica de Milgram | “Ontario Science Centre: Milgram’s Electric Box” by Diamond Geyser is licensed under CC BY-NC-ND 2.0.

O que foi o experimento de Milgram?

Na década de 60, Stanley Milgram, um psicólogo da Universidade de Yale, decidiu fazer um experimento. A ideia surgiu após assistir ao julgamento de Adolf Eichmann, um criminoso da Segunda Guerra Mundial. Durante o julgamento, ele justificou as mortes de milhões de judeus dizendo que “estava apenas seguindo ordens de superiores”.

Então, isso chamou a atenção de Milgram, e ele levantou a seguinte questão: “Poderia ser que Eichmann e seus milhões de cúmplices estavam apenas seguindo ordens? Será que podemos chamá-los todos de cúmplices?”

Desse ponto de vista, Milgram decidiu montar o seu experimento, que trouxe muita fama para ele, mas também muita controvérsia em relação aos resultados obtidos.

O que diz o experimento de Milgram?

Os experimentos começaram em 1961, e o pesquisador buscou investigar se os alemães eram realmente obedientes às autoridades, já que era uma explicação comum para os atos cometidos durante a 2ª Guerra. 

Desse modo, Milgram, através de anúncios de jornal, conseguiu 40 homens para participar do seu estudo. 

Além disso, Milgram criou um gerador de choques que começavam em 15 volts até chegar a 450 volts, aumentando sempre de 15 em 15 (ou seja, eram 30 aumentos). Havia vários botões com nomes que iam desde “choque leve”, “choque moderado”, “perigo!” e os últimos três botões apenas tinham “XXX” escritos.

exemplo de como era feito o experimento de milgram
Exemplo do Experimento de Milgram | Fred the Oyster – licença CC BY-SA 4.0)

Como começou

A cada experimento, três pessoas participavam: 

  • O responsável pelo experimento (um ajudante de Milgram); 
  • O “professor”, um dos voluntários, que deveria aplicar os choques e pensava que estava apenas auxiliando no teste (mas na verdade era quem estava sendo estudado);
  • O “aprendiz”, que iria receber os choques e era um ator treinado, que fingia ser um voluntário.

No começo de cada experimento, tanto o voluntário como o ator tiravam dois papéis para definir quem seria o professor e o aprendiz. Contudo, ambos os papéis diziam “professor”, mas o ator enganava o voluntário dizendo que tinha tirado o papel de “aprendiz”.

Depois disso, eles iam para uma sala ao lado, onde o aprendiz ficaria sentado e amarrado em uma cadeira supostamente elétrica, para — de acordo com o responsável — “garantir que o aprendiz não fuja”. Assim, eles deixavam o aprendiz na sala e voltavam para o local anterior, para começar a aplicação do teste.

E assim, começava o teste: cada vez que o aprendiz desse uma resposta incorreta (não dizer nada também era visto como errado), o voluntário deveria aplicar choques de modo progressivo. Na verdade, não havia choque algum, e o ator apenas fingia que estava sendo eletrocutado.

Desse modo, conforme o experimento andava e as descargas elétricas se tornavam mais fortes, o ator começava a implorar para sair do local, fingia que tinha problemas cardíacos e até batia nas paredes e exigia ser solto. Isso acontecia até que, ao disparar a voltagem máxima, o ator parava de fazer qualquer tipo de barulho.

Quando o teste encerrava?

O experimento encerrava de duas formas. A primeira forma era quando o voluntário dizia que não queria continuar com o experimento. Então, quando isso ocorria, o responsável deveria seguir um roteiro com quatro respostas, dizendo:

  • Por favor, continue.
  • O experimento precisa que você continue.
  • É absolutamente necessário que você continue.
  • Não existe outra escolha; você deve continuar.

A próxima resposta só era emitida quando o voluntário continuava recusando. Após recusar cinco vezes, o experimento era “cancelado” e encerrado. 

A segunda forma de encerrar o teste acontecia quando o voluntário apertava o botão de 450 volts, escrito “XXX”, três vezes.

Conclusões do experimento de Milgram

O resultado final do experimento de Milgram trouxe algumas respostas que foram muito controversas. Em primeiro lugar, a obediência foi medida de acordo com o nível de choque que cada voluntário deu. Muitos apresentaram sinais de incômodo, como suor, tremedeira e gaguejo, por exemplo, mas, mesmo assim, foram até o final.

Dessa forma, os dados de Milgram mostraram que 65% das pessoas no estudo deram choques até o nível máximo, ou seja, 26 pessoas. 14 pessoas não foram até o fim, mas todas elas administraram choques até 300 volts. Além disso, cada um dos participantes parou e questionou o teste ao menos uma vez ao longo dele.

Milgram também fez outras variações do mesmo estudo para avaliar possíveis situações que poderiam aumentar ou diminuir os níveis de obediência.

O que o experimento fez com os participantes

Muitos participantes tiveram reações físicas elevadas, como afundar as unhas na própria pele, morder os lábios, rir de nervosismo, e de acordo com ele, três pessoas tiveram convulsões e várias chegaram a implorar para encerrar o teste.

Além disso, em seu livro, Milgram descreve que um homem se tornou uma pessoa “arrasada, que gaguejava e tremia”. De acordo com ele, esses efeitos eram temporários e o cientista disse os acompanhou durante um tempo, para garantir que não houve efeitos permanentes no corpo.

Além disso, de acordo com ele, todos os participantes se acalmaram ao ver que o ator que fez o aprendiz estava bem, diminuindo o estresse.

O experimento de Milgram buscou avaliar como as pessoas seguem instruções e se comportam na presença de uma autoridade. Milgram apontou alguns fatores situacionais que poderiam explicar o nível tão alto de obediência em um experimento que parecia tão brutal, como:

  • A presença de uma autoridade;
  • O ambiente de estudo;
  • As instruções;
  • A presença de outras pessoas no mesmo local;

É claro que existem vários outros fatores que afetam a obediência além desses, e ao longo do tempo, vários outros experimentos sobre o tema foram feitos.

Por que o experimento de Milgram é antiético

Esse teste sofreu muitas críticas e controvérsias, e a ética do estudo foi altamente questionada, afinal, os participantes foram submetidos a um alto nível de sofrimento emocional e psicológico.

Os maiores problemas éticos desse experimento foram:

  • A enganação, ao fazer os voluntários acreditarem que os choques eram reais;
  • A falta de proteção aos danos para os participantes;
  • A pressão do responsável para que as pessoas continuassem com o teste mesmo após dizer que não queriam continuar, afetando seu direito de desistir do teste.

Por fim, outras críticas foram feitas sobre a real utilidade desse experimento e se ele pode ser considerado válido.

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Equipe Eurekka

2 replies on “O experimento de Milgram: limites da autoridade e obediência”

Goste demais do artigo esclarece certo nos da psicologia humana.
Foi realmente esclarecedor a matéria sobre o experimento de Milgram, como a autoridade afeta a obediência.

Que bom que gostou do texto, Paulo! Ficamos contentes que você esteja consumindo nosso conteúdo.

Abraços,
Erick da Equipe Eurekka.

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