Análise do filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Equipe Eurekka
Brilho eterno de uma mente sem lembranças é um clássico que conquistou corações e…deixou muita gente confusa também. Por isso, no texto de hoje, nós vamos fazer uma análise do filme e explicar pontos essenciais da história.
Então, se você já assistiu e quer entender melhor a premissa ou se não viu, mas está curioso sobre esses personagens de que tanto falam por aí, este texto é para você!
Boa leitura!
Índice
O que acontece no filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças?
O filme gira em torno do romance de Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), os quais vivem um romance muito inusitado, intenso e complexo.
Tudo começa quando Joel descobre que, após uma briga, Clementine decidiu participar de um projeto inovador que permite que o paciente apague as memórias indesejadas. Assim, ela escolhe esquecer toda a sua história com Joel, a fim de evitar o sofrimento e seguir em frente.
Então, com raiva e depressivo por conta dessa situação, Joel decide fazer o mesmo, e é aí que a narrativa começa.
Quase todo o filme se passa na mente do protagonista, de modo que revisitamos suas memórias com Clementine, as boas e as ruins. E isso é muito interessante, pois a história brinca com os elementos mentais, mostrando as nuances das lembranças e o modo como criamos perspectivas sobre o passado.
Assim, percebemos que nossas memórias nem sempre correspondem ao que aconteceu de verdade, mas são um conjunto de percepções que podem se alterar com o tempo.
Porém, o que ninguém esperava é que, no meio do procedimento, Joel ficaria consciente em sua própria mente, percebendo que não queria mais apagar Clementine. Isso porque ele descobre que a dor causada pelo fim do relacionamento não era maior que a sorte de tê-la conhecido.
Dessa forma, ela passa a lutar para salvar essas memórias, mudando fatos e tentando “esconder” Clementine em outros acontecimentos gravados na sua mente, a fim de salvá-la do esquecimento.
Com um toque de ficção científica, a história é contada de forma não-linear. Por isso, o começo e o final do filme se conectam de forma inusitada e geram grande surpresa ao telespectador.
Você pode assistir ao filme na Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play.
A inspiração para a história
Charlie Kaufman, roteirista de Brilho eterno de uma mente sem lembranças, se inspirou no poema Eloise to Abelard, escrito pelo poeta inglês Alexander Pope.
“Quão feliz é a inocente vestal
Esquecendo o mundo, e pelo mundo sendo esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!
Cada prece é aceita, e cada desejo realizado;”.
O poema, por sua vez, foi inspirado em uma história real que aconteceu na Idade Média. O caso foi que Pedro Abelardo e Heloísa de Paráclito se apaixonaram e viveram um romance proibido, o qual teve como fruto uma gravidez inesperada e a separação total durante quase toda a vida.
Ele era um filósofo, teólogo e professor, enquanto ela era escritora, erudita e freira. Quando a gravidez e o casamento secreto vieram à tona, Pedro Abelardo foi castrado e se tornou um monge, enquanto Heloísa ficou refugiada em um convento.
Ainda existem cartas trocadas entre os dois durante o tempo em que passaram separados.
Além disso, Charlie Kaufman também se inspirou na filosofia de Nietzsche, o qual disse: “Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos”.
Uma análise psicológica de Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Bem profunda essa história, não é mesmo? Toda a sua construção nos dá muito o que pensar a respeito.
E agora, para continuarmos a nos aprofundar no filme, vamos fazer uma análise de 4 pontos essenciais em Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
Confira!
1. A importância das nossas memórias
Na vida passamos por muitas situações difíceis. Perdemos pessoas, sofremos decepções e enfrentamos instabilidades, nesses momentos queremos apenas esquecer o motivo da nossa dor e seguir em frente, certo?
Imagine só ter a possibilidade de nunca mais lembrar dos momentos e das pessoas que nos machucaram!
A oferta parece tentadora, mas a verdade é que todas as nossas experiências, as boas e as ruins, são responsáveis por formar e moldar nossa identidade. Nós somos a junção das alegrias e das dores que nos cercam, sendo cada parte importante na nossa história.
No filme, quando Joel está no processo de apagar Clementine da memória, ele se dá conta de que conhecer ela foi uma parte essencial da sua vida, e que esquecê-la seria como esquecer um pouco de si mesmo.
Ou seja, mesmo sem saber o que o futuro reservava para eles, Joel entendeu que valeu a pena tudo o que eles viveram e que as memórias faziam parte de quem ele era. Sua história só poderia ser completa se abrangesse também o que ele queria esquecer.
2. As cores de Clementine
Se você assistiu ao filme, com certeza percebeu que o cabelo de Clementine muda com o passar do tempo, certo?
E essa mudança de cor tem uma razão bem interessante!
A psicologia nos mostra que cada cor expressa uma emoção e um sentimento, sendo capaz de despertar em nós sensações únicas.
Assim, as tonalidades do cabelo de Clementine nos apontam a fase da vida em que ela está vivendo e as emoções predominantes naquele momento.
Quando ela conhece Joel seu cabelo está verde, simbolizando a esperança e o florescer de um novo começo.
Durante a relação romântica dos dois e as fantasias mais intensas de Joel, o cabelo dela está vermelho, simbolizando a paixão, intensidade e os sentimentos à flor da pele. Além disso, essa cor também se relaciona com a imaginação de Joel, sendo essa a cor que aparece nas suas fantasias quando ele decide tentar salvar suas memórias com Clementine.
O laranja é a cor do fim. É com essa cor que Clementine toma coragem para terminar o relacionamento. Ele aparece como um tom desbotado do vermelho, significando o desgaste da relação.
Por fim, depois que ela apaga Joel da memória, ela aparece com o cabelo azul, revelando a tristeza que estava sentindo e as lacunas de sua vida. Sendo que essa é a cor do início e do fim da história.
Dica: as cores do cabelo de Clementine também são uma ótima forma de se localizar no tempo do filme, revelando quando é passado, presente ou futuro. O verde é quando se conhecem pela primeira vez, o laranja e o vermelho são as fases passadas do relacionamento que são revisitadas na mente de Joel e o azul é o presente, quando se reencontram.
3. A idealização do par romântico
Em muitos momentos percebemos que Joel é um romântico incurável. Assim, ele idealizava Clementine, como se ela fosse alguém que o completaria totalmente.
E, da mesma forma, Clementine via em Joel alguém que pudesse salvá-la dela mesma.
Assim, quando ambos começam a perceber os defeitos e as disparidades entre eles, o relacionamento desanda. Isso porque a realidade não sustentava a idealização criada por ambos.
Apenas no final do filme, depois que Joel revisita suas memórias, é que a aceitação da imperfeição começa a surgir. Como podemos ver no diálogo em que Clementine diz que é cheia de defeitos, que ele vai encontrar nela coisas de que não vai gostar e que ela vai se sentir sufocada.
E Joel responde apenas “tudo bem”, e os dois riem juntos. Indicando uma aceitação das dificuldades que viriam.
4. O amor no dia a dia
A partir da análise acima podemos perceber que o amor não é encontrar sua alma gêmea, alguém perfeito e que te completará. Mas sim alguém que você escolhe todos os dias, apesar dos defeitos e das dificuldades.
Assim, podemos aprender que partilhar uma vida juntos não é viver sempre em êxtase e com borboletas no estômago, como Clementine muitas vezes desejava, mas sim aceitar a paz e a tranquilidade de ter alguém que é comum, mas que você escolheu amar.
O final de Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Então, recapitulando! A história se inicia com Joel descobrindo que Clementine o apagou de suas lembranças. Depois, o filme conta a história de ambos a partir da mente de Joel, quando ele também tenta apagá-la da memória.
E, depois de todo esse vai e volta, nós entendemos que o início é, na verdade, o fim!
Na manhã seguinte à intervenção de memória, Joel acorda e é Dia dos Namorados. Sem saber bem o porquê, ele decide faltar ao trabalho e ir para Montauk.
O protagonista não sabe, mas nós sabemos que esse foi o lugar em que ele combinou de se encontrar com Clementine quando ele estava falando com ela em sua mente, tentando não esquecê-la.
Assim, eles se reencontram na praia de Montauk, que também era o lugar em que eles se conheceram da primeira vez.
Eles não lembram um do outro, mas passam toda a viagem de volta juntos e, quando chegam à cidade, ele lhe oferece uma carona e ela o convida para conhecer seu apartamento.
Eles passam mais um tempo juntos e depois Clementine o chama para ir ao lago de gelo. Os dois se divertem e parece tudo bem, até que chegam na casa dela e encontram a carta que revelava os motivos pelos quais ela quis esquecer Joel.
Eles brigam e ele vai para casa, também encontrando sua própria carta e relembrando todos os motivos que o fizeram querer esquecer Clementine.
Parece o fim para o casal, mas Clementine vai atrás de Joel e eles percebem que, se quisessem ficar juntos, teriam que enfrentar a relação que falhou.
E a partir daí, chegamos no ponto do tópico acima, em que que eles entendem que ambos têm defeitos, mas que se escolheriam mesmo assim.
Dessa forma, a idealização é deixada de lado e o casal assume uma postura realista de escolha, amor e aceitação.
Saiba mais sobre o universo dos filmes
Se você gostou de saber mais sobre Brilho eterno de uma mente sem lembranças, confira aqui essa análise do filme As Horas, uma obra complexa que irá te prender do início ao fim!
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