A psicologia nos filmes da Marvel: o outro lado dos heróis

Equipe Eurekka

Quem nunca se interessou por super-heróis? Seja para adorar ou para criticar os filmes, não é à toa que esse gênero caiu nas graças da maior parte dos jovens — e até mesmo de alguns adultos. Mesmo que você acredite que isso se dá pelos personagens legais ou pelas histórias interessantes, isso tem muito a ver com a psicologia nos filmes da Marvel e de outras franquias.

Por isso, preparamos este texto para te mostrar o outro lado dos heróis. Ou seja, você vai entender que muito do carinho (ou do ódio) que temos pelos personagens tem a ver com nos identificarmos com eles e com os conflitos que perpassam suas vidas. Boa leitura!

A importância da figura do herói

Podemos chamar o herói de uma figura arquetípica, seguindo a lógica de Carl Jung, psiquiatra e fundador da psicologia analítica. Ou seja, é um símbolo que é do nosso conhecimento desde sempre, que está no nosso imaginário.

O arquétipo do herói dá sentido para todas as histórias que escutamos desde a infância, e serve para externar elementos que temos no nosso subconsciente, de acordo com Jung.

Então, falando de um jeito mais light, podemos entender que a figura do herói faz com que a gente se identifique com seus problemas e nos dê esperança de momentos melhores. Eles inspiram e refletem os valores sociais da época em que foram criados!

A identificação, de acordo com Freud, é a mais antiga e original forma de a gente se ligar com algo ou alguém de forma afetiva. Por isso, há heróis que fazem a gente pensar em nós mesmos, falando “nossa, eu sou assim também!”, e são esses que caem na graça do povo.

Os personagens e a psicologia nos filmes da Marvel

Agora que você já entendeu que o herói é bem mais do que um rostinho bonito nos filmes, vamos ver mais a fundo as questões que esses personagens trazem. O mais legal é perceber que cada um tem uma demanda diferente, assim como nós, pessoas comuns da vida real.

Então, vamos falar de alguns personagens e a sua psicologia nos filmes da Marvel:

jessica jones e a psicologia nos filmes da marvel

Jessica Jones: estresse pós-traumático e relação abusiva

Jessica Jones parece uma mulher comum. Não usa um super traje, não luta com um time contra o mal ou qualquer coisa do tipo. Contudo, sua super força a torna uma super heroína, já que acaba usando suas habilidades para salvar as pessoas, inclusive a si mesma.

Ao se aprofundar na história da forte moça, descobrimos que ela passou por uma relação abusiva, que causou danos ao seu psicológico. Ela foi dominada por Killgrave, vilão de sua série, que tem o poder de controlar mentes. Com isso, ela sofre abusos sexuais e é obrigada a cometer alguns crimes pelo vilão.

Além disso, ela foi diagnosticada com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) por conta disso. A série mostra muito bem os sintomas característicos deste transtorno, com lembranças perturbadoras e intrusivas, flashbacks dissociativos e reações físicas à estímulos ligados ao seu trauma. Ou seja, ela passa grande parte da série em intenso sofrimento psíquico.

É importante perceber como a série traz muitas questões relevantes e de fácil identificação para quem passou por situações parecidas.

Apesar de poder ser um gatilho, é uma ótima experiência para quem quer aprender mais como essas questões são “na prática” e para quem quer saber como isso poderia se resolver na vida real, sem a fantasia de um processo feliz e sem dor.

Feiticeira Escarlate: luto

Toda a história de Feiticeira Escarlate, também conhecida como Wanda Maximoff, tem a ver com luto. Sendo que grande parte da psicologia nos filmes da Marvel este relacionada a ela!

Primeiro, ela e o irmão veem os pais morrerem dentro da própria casa, por causa de uma explosão que acomete a todos eles. Quando jovem, ela vê o irmão morrer em luta, sofrendo muito por isso. Por fim, Visão, seu par romântico, morre duas vezes: uma vez pelas próprias mãos de Wanda, e outra vez, por Thanos, vilão dos últimos Vingadores.

Isso sem contar com seus filhos, que ela “cria” em uma realidade mágica e é obrigada a abandonar quando percebe que não pode sustentar esse devaneio. Aliás, muita gente não pensa sobre isso, mas perder expectativas, planos pro futuro e projetos em curso também são dignos de luto na vida de alguém.

Além disso, é muito interessante pensar que seus poderes agem quase como sintomas da sua dor, e isso fica claro quando ela “explode” em vários momentos dos filmes e da série.

Isso tudo nos mostra que a Feiticeira precisa aprender a elaborar o luto, até que viva com isso de forma saudável. Enquanto isso não ocorre, ela sofre muito e, também, faz outras pessoas sofrerem com a sua agressividade e a negação da realidade.

A série, em especial, além do filme Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, é uma ótima indicação para quem quer aprender sobre fases do luto, negação e aceitação.

Hulk

Hulk: técnicas de controle de raiva

Quando pensamos em Hulk, pensamos no seu bordão Hulk esmaga! Mas Hulk não esmaga sempre, na verdade.

Em uma cena muito famosa, o Capitão América diz a Bruce Banner, versão humana do Hulk, que aquela é uma boa hora para ficar com raiva. Afinal, estão em uma luta, e o “grandão verde” seria útil naquele momento. É quando Banner revela seu segredo: ele está sempre com raiva.

Se ele está sempre com raiva, como não é o Hulk o tempo todo? Simples: ele foi desenvolvendo técnicas de controle de raiva. E essa ideia é tão útil para todos nós que não tinha como a gente não falar dessa situação!

Quando estamos com raiva, tudo que temos vontade é de explodir, liberar esse sentimento ruim e atacar tudo que está a nossa volta. Contudo, sabemos que isso não é saudável e que pode causar danos para nós e para os outros. Por isso, técnicas de controle de raiva são vitais para dar vazão do jeito certo.

Opções para isso são a respiração diafragmática, a técnica de grounding e a meditação. Além disso, é útil entender e aceitar que ficar com raiva é algo normal e não precisa causar culpa ou vergonha. É tudo sobre saber dosar suas reações, certo?

Loki: adoção

Entre muitas outras questões problemáticas, Loki é um filho adotivo. Isso, por si só, não é nenhum problema! O problema surge quando os filmes fazem uma distinção clara entre filhos de sangue e filhos adotivos, quando, na verdade, todos deveriam ser tratados como “filhos” apenas, como defendem adotantes e adotados mundo afora.

Thor diz que o vilão do primeiro Vingadores é seu irmão, mas quando a Viúva Negra diz que Loki acabou de matar 80 pessoas, o Deus do Trovão argumenta essa situação explicando que ele é adotado.

Contudo, isso não é justificativa. Não é porque Loki foi adotado ainda criança que ele mantém uma “essência ruim” da família original, já que foi criado, junto com Thor, por um pai bondoso, compreensivo e incentivador. 

Isso fica claro, aliás, em todos os momentos dos filmes em que Loki decide agir da melhor forma para todo mundo, ao invés de pensar só em si. Apesar de ser o Deus da Mentira, o personagem consegue evoluir de forma a ter empatia pelos outros, muitas vezes até ajudando a salvar o mundo.

Banner clube do livro

Homem-aranha: luto e perda da figura paterna

Outro personagem que precisa lidar com o luto é Peter Parker, que conhecemos também como o Homem-Aranha. Ele perdeu os pais muito cedo, vivendo com os tios. Isso não parece ser um grande problema no início de sua história, já que ele tem muito amor pelos tios e vive uma vida comum. 

Contudo, quando seu tio morre durante um assalto, não é uma morte qualquer. O tio Ben servia como a figura paterna para Peter Parker, em quem ele depositava toda a confiança e o apego que seria, em um outro contexto, destinado a seu pai. 

Por isso, esta narrativa é muito interessante para entendermos como a rede de apoio é importante, afinal, sem os pais, ele ainda tinha os tios como base segura e como figuras que podem dar afeto e compreensão. 

Além disso, essa psicologia nos filmes da marvel, em especial do Homem-Aranha, também serve para entendermos como trabalhar o luto de forma saudável, já que ele vai, aos poucos, lidando bem com a morte do tio e usando este acontecimento como força motriz para ser uma pessoa boa, dar orgulho aos familiares e fazer o que é certo, ajudando os outros moradores do seu bairro.

cavaleiro da lua e a psicologia nos filmes da marvel

Cavaleiro da Lua: múltiplas personalidades

No início da série, conhecemos Steven Grant, homem que trabalha em um museu e é viciado nas culturas antigas, em especial, na cultura egípcia. É um homem culto, mas tímido e um pouco desastrado. Vive perdendo a hora, esquecendo a data em que está, e não se lembra do que fez nos dias anteriores.

Com o tempo, porém, entendemos que ele não “esquece”: ele não tem essas informações em sua memória. Como isso pode ocorrer? Bom, a história fica ainda mais doida quando entendemos que, nesses períodos de “escuridão” na sua memória, quem está agindo é Marc Spector, uma outra personalidade de Steven. Diferente dele, Marc é valentão e se mete em várias enrascadas

Por fim, descobrimos que Marc é a verdadeira “pessoa”, e Steven Grant foi uma personalidade inventada por Marc. Mas isso não ocorre de forma consciente! Ao passar por um grande trauma, que foi a morte de seu irmão, é como se o seu corpo entendesse que aquilo não era possível de suportar. 

Então, cria uma nova personalidade alheia daquele fato, que vive uma vida saudável, feliz e normal. Até aí, parece inofensivo, mas a questão é que não é saudável para o corpo manter vidas diferentes, muito menos fingir que alguma coisa não ocorreu.

Apesar da temática de heróis, é muito legal a gente entender o impacto que um trauma pode ter na vida de alguém. E também perceber como a gente pode resolver este tipo de situação de forma saudável para o nosso psicológico.

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Olha, você pode ter certeza de que todas essas narrativas seriam bem mais curtas e menos sofridas se estes personagens passassem por terapia. Mas, já que isso não ocorreu, é legal usar essas histórias para entender melhor a mente humana, você não acha?

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