Por que The Last of Us é tão bom? Uma análise psicológica
Equipe Eurekka
Toda a comunidade gamer esperou com muita animação – e também um pouco de receio – a série The Last of Us, adaptada do jogo com o mesmo nome. Mas algumas pessoas fora do mundo dos games também estão se interessando por esta história só agora, sem conhecer o jogo. Por isso, hoje vamos fazer a análise do jogo e da série The Last of Us.
É importante lembrar que você não precisa ter jogado a versão para videogames para assistir e entender a série. Então, você pode descobrir aqui (sem spoilers) por que é uma boa ideia ver a série que está bombando logo neste começo de ano.
Índice
Sobre o jogo The Last of Us
The Last of Us (TLOU) é uma franquia de jogos criada por Neil Druckmann. A história de survival horror se passa em um mundo pós-apocalíptico. O fungo cordyceps infecta pessoas e criaturas e as torna “zumbis”.
O desenrolar acontece num futuro distópico que começa com o surto da doença ocorrendo em 2013, mas o jogo em si se passa vinte anos depois, em 2033. Contudo, TLOU II, a continuação, vai mais além e conta com os personagens já mais velhos.
No game, você acompanha Joel, um homem amargo e bruto que realiza alguns trabalhos em troca de suprimentos para sobreviver, e Ellie, uma pré-adolescente que precisa ser levada até uma base segura do outro lado dos Estados Unidos.
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Quando lança a série de The Last of Us na HBO?
A série já começou a ser transmitida na HBO e também no streaming do canal. São 9 episódios, sendo um novo todo domingo. De acordo com as análises e críticas do que foi lançado até agora, os episódios são muito fiéis ao jogo, com poucas mudanças.
Aliás, você sabia que o fungo que transforma pessoas em “zumbis” como na série existe no Brasil? Pois é! Ele é real e costuma ser encontrado em florestas tropicais, como as que temos no país. Apesar disso, é inofensivo para humanos.
Na série, os esporos que haviam no jogo deixaram de existir. Isso porque os criadores não queriam que os personagens tivessem que ficar de máscara a maior parte do tempo, impedindo de ver seus rostos. Assim, os fungos se espalham como “tentáculos”, pelos cantos.
Por que The Last of Us é tão bom?
The Last of Us é a segunda maior estreia da HBO em 12 anos, e isso não ocorreu à toa.
É fato que o jogo traz uma história dramática muito bem criada, com personagens desenvolvidos e muitos momentos de tensão e tristeza. Por isso, é possível dizer que tanto a série quanto o jogo são bons pois trazem dores que são comuns a nós.
O Joel é um pai triste, uma pessoa sem muito rumo, que aos poucos vai voltando a se importar com as pessoas à sua volta. Por outro lado, acompanhamos o amadurecimento de Ellie e a perda de sua inocência.
Portanto, para quem gosta de séries como Stranger Things, a série da HBO promete entregar cenas igualmente emocionantes sobre traumas e relacionamentos.
Além disso, os atores que o canal escolheu para esta adaptação não deixam a desejar. Pedro Pascal, que participou de The Mandalorian e Game of Thrones, e Bella Ramsey, também de GoT, trazem o ponto certo de drama e tensão.
O que The Last of Us nos ensina?
Claro que não conseguimos falar tudo aqui para não trazer grandes spoilers, mas a saga dos dois jogos – e da série – traz temas muito importantes.
Enquanto Joel começa a jornada pelo dinheiro que levar Ellie em segurança o traria, ele passa a ter uma ligação com a menina e a história começa a desenvolver sentimentos, acontecimentos e relações que existem no mundo real, ao mesmo tempo em que conflitos difíceis acontecem no desenrolar da narrativa para desestruturar as personagens.
Dá uma conferida sobre o que The Last of Us nos ensina e faz refletir:
A superação do luto
O prelúdio da história de Joel já começa mostrando a proximidade que ele tem com sua filha biológica, Sarah. Ele é um pai presente e sua filha retribui seu amor demonstrando um enorme carinho por ele, mas durante uma fuga diante do início da infecção em massa, Sarah acaba falecendo em seus braços. Isso gera um enorme impacto em Joel, que o faz perder sua empatia num geral.
Já Ellie, nasceu órfã. Acabou crescendo num cruel mundo pós-apocalíptico e se desenvolveu até os 14 praticamente sem o contato de um real carinho de pai ou mãe por perto, se abrigando num refúgio militar. Ela também é uma sobrevivente que foi atacada por um dos contaminados pelo fungo, mas não desenvolveu a doença.
Ambos passaram por situações traumatizantes e perdas repentinas, e tudo ficou mais difícil quando encararam alguns desses momentos sem nenhum ombro amigo. Os personagens levam suas marcas de luto a todo momento durante o jogo e aprendem que não podem ser corroídos pela morte, que os rodeia a todo instante.
A relação paterna
O privilégio da imunidade de Ellie se torna raro diante de tantos infectados, e isso é o que faz com que seu caminho se cruze com o de Joel. Duas personalidades diferentes que se complementam pela mesma carência de afeto.
O desenvolvimento da relação entre Joel e Ellie é duro e muito complexo, já que no começo ela é apenas uma mercadoria a ser transportada até um objetivo que dê um retorno financeiro. Mas, com o tempo, essa aproximação dos dois transforma a dor de ambos numa reconexão dos pequenos prazeres em estar junto com alguém numa vida tão angustiante.
Inclusive, em um determinado ponto da narrativa, Ellie exibe sua ferida interna sobre a falta de uma pessoa que se importe com ela, ao dizer a Joel: “Todos que eu amava me deixaram ou morreram, todos…exceto você. Então não diga que eu estaria seguro com o outro porque eu ficaria com mais medo”. O relacionamento de pai e filha que os dois conquistam ensina que família não precisa ser de sangue, e sim sobre quem queremos por perto.
A ética e a moral em tempos difíceis
Viver num mundo infestado por uma doença sem cura, em que qualquer um pode se tornar o próximo contaminado – inclusive o seu parceiro mais próximo –, não é uma aventura nada fácil. Ainda mais quando existem facções lutando por dominância e sobrevivência, a FEDRA (grupo militar dominante) e os Vagalumes (organização popular de oposição que luta por democracia).
No meio desse caos, decisões difíceis precisam ser feitas por todos os sobreviventes. E todas as ações têm consequências! Joel e Ellie são pessoas comuns, sem treinamento, vivendo no tenso clima de que podem ser atacados a qualquer momento. E ou revidam, ou morrem.
Então, quem é o herói e quem é o vilão?
Em The Last of Us, essa pergunta depende do ponto de vista de cada vivência. Numa versão da Terra em que a ética e a moral estão desestruturadas, seria correto usar a violência para conseguir o que quer? Mas, a que custo? Se tornar uma pessoa amarga e vingativa com desprezo por tudo e todos?
Esses dilemas são muito bem apresentados na narrativa. Afinal, os personagens estão mais preocupados em continuarem vivos do que seguirem os valores que os tornam humanos respeitosos e sociáveis.
A importância da saúde mental
Mentes quebradas e esgotadas. No começo, Joel é um homem sem ânimo para nada e Ellie se encontra numa posição defensiva, uma vez que ser vulnerável já lhe causou muito dano.
Não há muitas vias de prazer e descanso num mundo anormal que desmorona a cada instante, e isso faz com que todos os sobreviventes cheguem ao extremo do cansaço físico e mental. Eles carregam traumas não tratados e também não podem confiar em ninguém para aliviar ao menos um pouco da dor.
Ellie, Joel e outros exalam os resultados de quando não há um cuidado com a saúde mental. Seus comportamentos e relações refletem todo o sofrimento que carregam com eles em suas mentes.
Você já assistiu a adaptação do jogo na HBO? Conta para a gente nos comentários!
Além de The Last of Us, outras análises psicológicas
Ao consumirmos conteúdos de entretenimento, é muito bacana quando conseguimos desmistificar aquela opinião rasa de que “servem apenas como lazer”. Pois, pelo contrário! São fontes de conhecimento e reproduzem muito do que somos como sociedade.
Além do blog da Eurekka contar com conteúdos informativos sobre bem-estar e saúde mental, também escrevemos algumas análises baseadas na psicologia e nos comportamentos das personagens.
Recentemente, fizemos uma análise psicológica sobre o mais novo filme do Pinóquio e do clássico Cisne Negro. Também debatemos sobre crimes reais adaptados ao cinema e afins.
Para conferir essas e outras análises, basta continuar acompanhando nosso blog. Se preferir algo específico, utilize a barra de pesquisa para achar seu novo post favorito!
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