Psicopata: como identificar? O que não te contam nos filmes!

Saúde mental, Transtornos

Frios e calculistas, mas cem por cento sociáveis. Lobos em pele de cordeiro. De todos os tipos de vilão do cinema, o psicopata é com certeza um dos mais populares.

Personagens como Hannibal Lecter, Norman Bates e Frank Underwood demonstram a postura, entonação e perigo de um psicopata. Mas o perfil psicopata que os filmes e séries nos mostram existe na vida real?

A psicopatia se “popularizou” ao longo dos anos, muito por conta dos cinemas. Porém, sempre que um conceito se torna comum nas conversas e entra de vez no vocabulário da população, é importante ter certeza sobre o que se está falando.

Por isso, até o final desse texto você vai entender o que é real e o que é ficção e, com isso, ter uma ideia mais clara de como essa psicopatologia pode aparecer na sua frente.

O que é psicopatia?

Quando pensamos nesse termo, costumamos pensar em alguém que pode ser um homicida ou um predador, com um certo charme diferente, mas também um mentiroso. Ou talvez alguém tão louco que acha difícil separar a realidade de alucinações.

Talvez as pessoas imaginem alguém com uma vida bem normal de dia, mas cem por cento diferente quando ninguém está vendo. Ou alguém quase invisível, nunca visto por ninguém exceto suas vítimas (como Jack o Estripador ou o assassino do Zodíaco).

Porém, se você quiser falar desses termos da forma certa, vamos precisar esclarecer melhor os termos técnicos. Um psicopata, na definição do mundo real, é alguém com uma psicopatia. O que a maior parte das pessoas não vê é que qualquer transtorno mental pode ser chamado de psicopatia. E isso inclui transtornos menos homicidas, como: depressão, TDAH e síndrome de Tourette.

A palavra psicopatia é a junção de dois termos gregos: “psico” se refere à mente; “pato” vem de um termo que significa sofrimento. Como é um termo super abrangente, é raro você ver ele usado por psicólogos e psiquiatras fora de aulas na faculdade com assuntos como “introdução à psicopatologia”. Na vida real, nós preferimos falar, quando muito, de grupos mais específicos como transtornos de personalidade, do humor, etc.

Psicopata ou serial killer?

Outro conceito importante é o termo serial killer, criado pelo FBI para falar sobre aquelas pessoas que matam repetidas vezes. Você não precisa ter um transtorno mental para matar três ou mais pessoas e ser promovido, pela justiça, a assassino em série.

No entanto, de fato, muito mais pessoas com problemas mentais sérios acabam por cair nesse caminho. Muitos serial killers se tornaram famosos pela sua personalidade e serviram como uma fonte de inspiração para a noção popular do psicopata.

Se um psicopata/sociopata não é só alguém com uma psicopatia e não é só um serial killer, o que define um então?

Transtorno de personalidade antissocial

Se você fala que alguém é antissocial, é provável que você quer dizer que a pessoa não gosta de sair, que talvez não faça novos amigos tão fácil ou que, em geral, não se dê bem com os outros. Se alguém gosta de estar sozinho e tem menos interesse em atividades sociais, é mais preciso chamar essa pessoa de introvertida.

Agora que tiramos isso do caminho, o que de fato é o transtorno de personalidade antissocial? Pra facilitar, vamos chamar isso de TPA de agora em diante.

Para começar, é um transtorno de personalidade. Para comparar, pense pessoas como síndrome do pânico veem que tem um problema. A pessoa está bem e, de repente, os sintomas do pânico atacam: respiração ofegante, dor no peito, sensação de morte iminente. Quem tem síndrome do pânico se lembra muito bem de uma época que não tinha esses sintomas e gostaria muito de se livrar deles.

Contrastando com isso, alguém com TPA não se vê com um transtorno mental. Os sintomas são parte de como a pessoa se define. Eles também não acontecem em um tipo de situação ou com um gatilho claro. Pelo contrário, eles estão presentes em todas as áreas da vida: trabalho, lazer, amizades, amor… e existem desde que a pessoa consegue se lembrar.

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Sintomas de transtorno de personalidade antissocial

Os sintomas que um psicólogo procura são:

1. Um padrão de violação dos direitos das outras pessoas que pode aparecer nas seguintes formas (e pelo menos três precisam estar presentes para o diagnóstico):
   • Fracasso em se adaptar às normas da sociedade, levando a repetidos atos que podem fazer a pessoa ser presa;
   • Tendência à falsidade, com mentiras repetidas, nomes falsos ou trapaças em geral para ganho ou prazer pessoal;
   • Impulsividade ou fracasso na hora de fazer planos para o futuro;
   • Irritabilidade ou agressividade, a ponto de ser violento de forma física com os outros;
   • Descaso pela segurança dos outros e/ou de si mesmo;
   • Ser irresponsável a ponto de, de forma repetida, perder o emprego e ficar com dívidas;
   • Não sentir remorso ou culpa ao ferir, maltratar ou roubar os outros, em geral com alguma desculpa junto (“você estava pedindo”, “agora aprendeu a não bobear”);
2. Há evidências da pessoa ser assim desde antes dos 15 anos de idade;
3. Hoje em dia, a pessoa tem pelo menos 18 anos;
4. Esses modos de agir violentos não se encaixam em um diagnóstico de bipolaridade (essa cláusula é importante para diferenciar os diagnósticos).

Na verdade, esse é o diagnóstico para um criminoso sem consciência, que gosta de enganar os outros e ou não se importa de machucar os outros, ou tem prazer em fazer isso. Esses critérios nos dão algumas opções para falar melhor tanto de psicopatas no mundo real quanto da ficção.

Por fim, é preciso que seja muito claro para você que apenas ler essa lista não é o suficiente para caracterizar alguém com TPA. Se você acredita que se encaixa ou conhece pessoas que podem se encaixar em alguns desses sinais, ainda assim é necessário que um profissional (psicólogo ou psiquiatra) faça a avaliação de forma apropriada.

Qual o perfil do psicopata?

Eis um lance vital sobre o TPA: para fechar o diagnóstico, não precisa de todas as formas de agir lá do critério 1, mas só 3 em qualquer combinação. Isso ajuda a traçar os paralelos do TPA, tanto com psicopatas mais famosos, quanto com psicopatas mais “mundanos.”

Características de um psicopata:

Existem vários comportamentos que, em maior ou menor escala, aparecem em pessoas que são consideradas psicopatas. Para você ter uma ideia do que observar, vamos listar algumas dessas características aqui.

1. Falta de empatia

Um psicopata tem pouca ou nenhuma capacidade de se colocar no lugar do outro, de imaginar como o outro está se sentindo e de pensar sobre como as suas ações podem ser ruins e negativas para o seu alvo. Esses são os sinais de que ele não tem empatia, uma característica básica e necessária para qualquer pessoa que queira viver bem em comunidade.

2. Não sente culpa

Como ele não tem empatia, acaba também por não sentir culpa. Afinal de contas, se não me importo com o outro, não tem porque me sentir mal pelo que eu faço, certo? Aqui, um fator está ligado ao outro.

3. Egocentrismo

O psicopata tende a achar que precisa ser o centro de tudo sempre. Por conta disso, inclusive, é que faz o que quer, quando quer e sem pensar no próximo. A sua vontade é a única que importa e, por isso, tem atitudes egoístas com frequência.

4. Impulsividade e falta de controle

Além de se colocar em primeiro lugar, o psicopata não consegue controlar sua raiva e seus impulsos. Sendo assim, quando está passando por um momento de raiva, caso sinta que alguém o ofendeu, pode explodir e ter reações explosivas e agressivas.

5. Autoconfiança excessiva

Fazer tudo o que faz, se achar o dono do mundo, ser capaz de “seduzir” e convencer pessoas é resultado de uma autoestima muito elevada. Isso pode, até mesmo, chegar no ponto de se tornar um narcisismo e, assim, se adiciona mais uma camada complicada para a situação.

6. Manipulação, boa fala e sedução

O psicopata pode saber navegar os meio sociais muito melhor do que a maioria das pessoas. Ele aprende e aplica formas de manipular os outros e, dessa forma, consegue muitas vezes parecer 100% inocente, como se fosse apenas uma boa pessoa com boas relações.

Além disso, pode ter ótimas capacidades de sedução, tanto do sexo oposto quanto do mesmo sexo. Essa é uma forma de criar relações e possíveis vítimas, além de ser mais um sinal da sua falta de controle de desejos sendo, nesse aspecto, o desejo sexual.

7. Mentiras constantes

Mentir não é problema para um psicopata, isso porque falar o que quer e o que os outros querem ouvir para atingir, para ele, é apenas um atalho para os seus objetivos. Além de mentir, mente muito bem por conta do que foi mencionado no tópico acima. Sua lábia é muito boa e pode passar a vida toda mentindo e escapando das consequências.

Por outro lado, as mentiras são, muitas vezes, a sua ruína. Isso acontece porque, no emaranhado de mentiras criado, pode ocorrer de alguém encontrar falhas, começar a suspeitar e, assim, descobrir esse lado obscuro da pessoa.

Psicopatia ou sociopatia

Outro termo que as pessoas usam muito é sociopata. Mais uma vez, no manual de diagnósticos mais recente que a psicologia tem, esse termo não existe, mas ele acaba sendo útil para separar os “subtipos” de psicopata.

Se você perguntar por aí, os pesquisadores vão te dizer que um psicopata tem a sua falta de empatia e compulsão à violência por problemas genéticos (ou seja, nascendo com eles) enquanto um sociopata tende a adquirir os seus sintomas por fatores ambientais (ou seja, como cresceu e as pessoas que influenciaram sua vida). 

No entanto, se você for atrás de estudos que comprovem essa hipótese, vai ver como não é uma linha tão clara que separa os dois. Para todo mundo, antissocial ou não, tanto fatores genéticos quanto ambientais compartilham o que nos define.

Estatísticas: todos os criminosos são psicopatas ou sociopatas?

Estima-se que a prevalência do TPA na população seja entre 0,2% a 3% (ou seja, que no mundo todo, no máximo 3% das pessoas tenham esse transtorno). Já em ambientes específicos, como em prisões e nos negócios, estima-se que a porcentagem chegue entre 12% e 15% fechando o diagnóstico.

E prisões fazem bastante sentido. Lembre que esse é um transtorno criado para diagnosticar o modo de agir criminoso, não só os assassinos psicóticos e mentirosos compulsivos.

Já no mundo dos negócios, pode (ou não) parecer curioso encontrarmos mais psicopatas por conta de como a maioria deles não consegue pensar no longo prazo e ter um planejamento estratégico. Pode ser que tenham um grande sucesso, mas que se enrolem ao longo da carreira por causa desse fator.

Dito isso, existe a hipótese que os psicopatas com mais conscienciosidade (o traço de personalidade de ser mais cuidadoso) e menos tendência à violência acabem prosperando no seu ambiente de trabalho, justamente por terem uma resistência maior ao estresse de um ecossistema competitivo como só o mundo do capitalismo e das empresas pode ser.

Psicopatas no Brasil

O Brasil também tem a sua cota de matadores perigosos. Um dos exemplos que você talvez tenha conhecido nas aulas de histórias é o de José Ramos, o açougueiro da rua do arvoredo. Diz a lenda que a sua esposa atraía as vítimas para a casa deles para José matar e, com a dica de um comparsa açougueiro, transformar a carne delas em linguiça para disfarçar as evidências do crime.

Já João Acácio Pereira da Costa, conhecido como Bandido da Luz Vermelha, demonstra bem um criminoso narcisista. A mídia o apelidou desse jeito, em referência a um bandido americano com o mesmo nome (bom… só que em inglês). Depois de preso e de servir a pena máxima de 30 anos, era notório por andar pelas ruas usando roupas vermelhas e comprando briga com as pessoas. Inclusive, morreu em uma briga de bar, por tiro de espingarda.

Temos outros exemplos de psicopatas no Brasil. Talvez o mais moderno seja o de Pedrinho Matador, que matou o primo, o pai e muitas outras pessoas na cadeia.

Como diagnosticar um psicopata

Talvez você pense que tem um colega de trabalho psicopata. Mas como saber se ele não é só um simples babaca? Psicólogos conseguem fazer esse diagnóstico melhor com alguns testes e entrevistas, mas muitos dependem, é claro, se o psicopata em questão vai tentar se dissimular como alguém normal ou não.

Assim como alguém com borderline ou narcisismo, um profissional treinado consegue “cheirar” que tem algo de diferente em alguém e investigar mais a fundo. O jeito mais prático é com uma entrevista diagnóstica, em que o psicólogo pergunta ao paciente sobre sua vida, opiniões, etc. e direciona as perguntas de acordo com os sintomas do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

No entanto, também existem testes que perguntam sobre comportamentos antissociais, que podem ajudar no diagnóstico.

Vale lembrar que nem psicólogos podem sair por aí soltando diagnósticos. Quando Donald Trump foi eleito presidente, por exemplo, a internet adorou discutir se o homem se encaixava como um psicopata ou só como um narcisista ou se era alguém normal. No entanto, qualquer diagnóstico precisa de tempo, método e informações de qualidade.

Tipos de tratamento

Preciso começar te dizendo isso: não tem nenhum tipo de terapia que seja comprovada de forma empírica como eficaz como tratamento para TPA. Por outro lado, psicoterapias não costumam ser comprovadas… em especial para transtornos de personalidade.

E personalidade é, até onde a psicologia consegue ir, a melhor medida de quem a pessoa é. Existem muitos tratamento para fobias, traumas, depressão, ansiedade, etc., mas questões de personalidade podem ser mais profundas e difíceis de mudar.

Dito isso, um transtorno só é um transtorno enquanto, por definição, traz sofrimento para o “transtornado” e para as pessoas ao seu redor. E, vamos combinar, matar pessoas e passar a maior parte da vida preso é um belo sofrimento para si mesmo e para os outros.

Por isso, o maior foco dos pesquisadores na hora de testar tratamentos diferentes acaba caindo para as seguintes prioridades:

1. Parar com o modo de agir criminoso;
2. Depois, reduzir o modo de agir manipulativo;
3. Treinar habilidades para parar de tomar decisões impulsivas;
4. Tratar a raiva e o jeito agressivo;
5. Segurança financeira e estabilidade no trabalho;
6. Assumir responsabilidade por suas ações.

As intervenções acabam caindo nas áreas de terapia e prevenção. A prevenção até agora tem se provado o melhor caminho. Enquanto “apagar” por completo o transtorno talvez não seja possível, ainda existe muito que pode ser feito para diminuir os efeitos negativos dele na vida do sujeito e das pessoas ao seu redor.

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