Aviso: o psicólogo também sofre com a Síndrome do Impostor

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Daniel Dal Corso

A maioria dos terapeutas, em algum momento, vai tratar um paciente que tenha a Síndrome do Impostor. Porém, eu acho que a maioria dos terapeutas não vai se perguntar se eles mesmos não têm essa síndrome. 

Pense bem. Você já não sentiu que não era bom o suficiente como psicólogo? Ou que tem sempre um colega de profissão que é melhor do que você?

Bom, se você já pensou algo parecido, leia este texto até o final e entenda como acontece e como se resolve a Síndrome do Impostor na vida do terapeuta.

Boa leitura!

O que é a Síndrome do Impostor?

A Síndrome do Impostor se caracteriza por uma incredulidade na sua própria competência. É uma racionalização que invalida quaisquer evidências a favor de si mesmo.

E nessas racionalizações é muito normal que se tenha pensamentos como: “Ah, eu só estou aqui porque eu dei sorte”, “Eu só tirei nota boa na prova porque o professor gosta de mim” ou “Qualquer um poderia ter feito o que eu fiz, porque o que era preciso era muito fácil”.

Sintomas de quando o psicólogo também sofre com a Síndrome do Impostor

Nós, terapeutas, podemos ficar extremamente vulneráveis a essa síndrome por causa da natureza do nosso trabalho. 

Nós, enquanto classe de profissão, ainda estamos muito longe de ter um guia definitivo de como tratar todos os problemas de todos os tipos de pacientes, com todas as personalidades que eles podem ter e com todos os ambientes e demandas diferentes.

É uma combinação infinita de possibilidades e a gente certamente não tem a resposta para muitos dos problemas que afligem o ser humano. 

E, somado a isso, tem o fato de que, pelo menos no ano de 2023, as últimas metanálises apontam que o vínculo terapêutico acaba sendo o maior preditor de sucesso para a terapia. Ou seja, maior do que a própria intervenção, que é o que a gente costuma medir nos estudos.

Assim, a gente tem um mix perfeito de ingredientes para nos sentirmos inseguros sobre quando o crédito é nosso, quando o crédito é do paciente ou mesmo quando o crédito é de fatores que estão fora do nosso controle.

Então, pensamentos relacionados à Síndrome do Impostor que podem aparecer especificamente no caso do terapeuta são:

  • “A demanda do meu paciente era só a ansiedade. Qualquer terapeuta de TCC poderia ter ajudado ele com isso. Eu não fiz nada.”
  • “Foram só os acontecimentos da vida do paciente que resolveram os problemas por ele.”
  • “Eu não sei por que me consideram um bom terapeuta. Eu só estou na clínica há mais tempo. Eu aposto que a minha taxa de sucesso é a mesma de todo mundo.” 
  • “O meu paciente quem fez tudo. Eu não precisei fazer nada e ele resolveu tudo sozinho.” 

E, de novo, sempre é legal apontarmos que a Síndrome do Impostor não está correlacionada com a nossa performance de fato. Então, é uma situação na qual os seus pacientes podem estar desfrutando de uma melhora e quem está sofrendo aqui é você

Como resolver esse problema?

Então, tendo a clareza de que o psicólogo também sofre com a Síndrome do Impostor, eu vou te dar agora 3 dicas moldadas para a nossa realidade na clínica, confira!

1. Não tenha medo de ser vulnerável

Às vezes, pode parecer que a Síndrome do Impostor é sobre os resultados que você pode entregar ou o quão especial você deveria ser. Mas, na verdade, ela é sobre o seu medo de estar abaixo das expectativas. 

Isso se traduz no contexto clínico em pensamentos como “eu não posso mostrar insegurança para o meu paciente, porque se ele pensar que eu não sei o que eu estou fazendo, eu vou perder credibilidade”.

Contudo, a gente pode encarar esse tipo de pensamento até em uma categoria um pouco mais geral do que só a Síndrome do Impostor. A gente pode chamar isso de medo da vulnerabilidade. E falando dessa categoria mais geral, eu vou ser sincero com você: eu também tenho medo de me mostrar vulnerável. 

Eu tenho medo, em muitas situações, de que se eu for 100% genuíno, eu vou acabar afastando as pessoas. E isso vai desde contextos sociais até trabalho. 

Isso acontece comigo, porque quando eu estou sozinho, eu não sou essa pessoa faladora. Eu sou muito mais quieto, com muito menos emoções e muito mais direto ao ponto comigo mesmo. 

Mas, muitas vezes, eu acabo colocando uma máscara de alguém mais expressivo e mais emotivo para tentar criar um elo emocional com as outras pessoas.

E elas percebem que isso é artificial, que tem algum ingrediente faltando. Então, isso, paradoxalmente, faz com que eu não tenha tanta proximidade das pessoas quanto eu gostaria. E isso se traduz na terapia também. 

Se eu vejo alguém triste, eu penso que deveria estar triste também, porque isso seria empatia. Só que essa pressão para me sentir triste é o que contribui para a artificialidade da coisa.

Mas é muito interessante ver como, estando aberto para sentir o que de fato eu estou sentindo no momento, cria o terreno para ter uma conexão onde emoções mais fortes surgem depois. 

E eu diria que, diferente de outras profissões, essa é uma vantagem na nossa. Isso porque a gente trabalha em um ambiente onde vulnerabilidade, autenticidade e insegurança acabam sendo ingredientes importantes para o crescimento pessoal dos nossos pacientes.

Para muitos deles, numa situação em que você está se sentindo inseguro, cai muito bem você ter essa transparência e falar de um jeito profissional, mas ainda assim genuíno.

Algo como: “Olha só, eu não tenho muita experiência com essa sua demanda em particular e isso me deixa inseguro de sugerir essa intervenção. Mas eu acho que se a gente realmente tentar essa técnica e observar os resultados, a gente vai estar dando um passo para frente, nem que seja pelo feedback de saber que não deu certo para poder tentar outra coisa”.

Então, a dica número um de como lidar com a Síndrome do Impostor é: não tenha medo de ser você mesmo, de tirar as camadas de superproteção e de estar vulnerável ali, junto com ele. 

De novo, a Síndrome do impostor não é sobre competência. Você já sabe coisas que a maioria do público leigo não saberia sobre intervenções e transtornos. É só uma questão de não ter uma máscara atrapalhando e criando artificialidade. 

2. Tenha foco no processo

A segunda dica para o psicólogo que também sofre com a Síndrome do Impostor é: foque no processo independentemente do que sua mente está falando sobre você mesmo.

Nós, terapeutas, sabemos os perigos de ficar criando rótulos e de brigar por esses rótulos. E se definir como um terapeuta bom ou um terapeuta ruim é um rótulo e um julgamento.

Embora rótulos em geral tenham um lugar na nossa vida, esses aí não são muito úteis. Isso porque a sua fé na terapia não deveria depender de você como pessoa, mas da sua fé nas intervenções e na abordagem que você segue. 

Então, não é sobre ser perfeito ou imperfeito, mas sobre o fato de você saber que, para um paciente em específico, um pouco de respiração diafragmática poderia ajudá-lo a ficar menos ansioso. E é nisso que você deve colocar a sua fé.

Talvez você esteja se preocupando muito com a opinião do paciente sobre você, enquanto deveria pensar que você tem um presente para entregar, que existe algo de valor que você pode oferecer. Seja uma intervenção, um conselho ou um ombro amigo. E cabe ao paciente receber esse presente e fazer com esse presente o que ele quiser. 

3. Se guie pelos fatos

Agora, a minha última dica, que é um pouquinho mais tradicional, mas também muito útil para quando você, psicólogo, também sofre com a Síndrome do Impostor.

Tente se guiar pelos fatos e não pelo que as coisas deveriam ser. E quando eu digo fatos, eu digo os resultados de todos os seus pacientes.

Quantos deles receberam alta ou pelo menos tiveram uma melhora nos sintomas? A intervenção que você fez provocou algum tipo de resultado positivo na vida dele?

E até falando de julgamento dos colegas de trabalho quando você atende em uma clínica. Algum dos seus colegas já te tratou mal por você ter cometido um erro? De forma punitiva e claramente ofensiva?

Então, de novo, se tem uma coisa que nós psicólogos sabemos fazer é RPG, né? Pegar a situação, analisar as evidências que são a favor ou contra os nossos pensamentos e tentar perceber se a gente não está tendo um pensamento excessivamente enviesado.

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É sempre bom lembrar que todos os transtornos têm, pelo menos, uma intenção positiva por ali. Ou seja, em algum lugar a gente pode tirar algo de útil da maioria dos transtornos. 

E, no caso da Síndrome do Impostor, a gente pode encará-la como uma oportunidade para desenvolver a humildade. E eu não digo uma humildade do tipo baixa autoestima, mas uma humildade real, que verdadeiramente leve em conta os seus créditos pelas coisas que acontecem, mas também os créditos de fatores fora do seu controle. 

Por exemplo, uma situação muito comum para o psicólogo que também sofre com a Síndrome do Impostor é a dificuldade de receber elogios.

Porém, se nós tivermos em mente que a gente não aceita tanto rótulos, mas mais processos, é sempre positivo a gente responder para elogios com um: “Obrigado, eu tento ser um bom terapeuta e continuarei tentando”.

Reconhecendo sempre essa mistura de fatores externos e internos, a fim de termos uma visão precisa da nossa competência e dos resultados que a gente traz, sempre com humildade e vulnerabilidade. 

Como Newton já disse, se eu vejo mais longe é porque eu estava nos ombros de gigantes. 

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Daniel Dal Corso

Daniel é psicólogo pela UFRGS, professor na Formação de Terapias Comportamentais Contextuais da Eurekka, palestrante, supervisor clínico e psicoterapeuta, tendo acumulado milhares de horas de atendimento. Por fim, também produz conteúdo para a Eurekka no Instagam, Youtube e, claro, nesse blog!

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