O que é Parto Humanizado? Como fazer, riscos e vantagens
Maria Antonieta Nobre de Lima Furtado
Você ouviu o termo “parto humanizado” e logo pensou em uma mulher dando à luz em casa, numa banheira, sem anestesia e sem ajuda de profissionais? Pois saiba que não é bem este o conceito do parto humanizado. Ele pode ser, inclusive, uma cesárea no hospital, como explicaremos logo mais!
Essa nova visão de parto tem por objetivo oferecer à gestante em trabalho de parto uma experiência mais humana e acolhedora, de forma que reduza a ocorrência de violência obstétrica. Então, afinal, o que é o parto humanizado?
Índice
O que é Parto Humanizado?
De forma bem simples, é o parto mais natural e fisiológico possível. Isso que dizer que se tomam medidas benéficas para a mãe e para o bebê, evitando intervenções desnecessárias. Entretanto, podem ocorrer algumas complicações durante o parto que exijam uma mudança de plano da via de parto (do vaginal para o cesáreo), mas não é apenas isso que define um parto humanizado.
Existem mulheres que optarão por um parto vaginal sem anestesia e outras por parto cesáreo com anestesia, mas os dois tipos poderão ser partos humanizados. Se as vontades da mãe foram respeitadas, dentro das possibilidades médicas, o parto pode ser considerado humanizado.
Diferença entre parto humanizado x parto normal
O parto normal é o termo que se usa para descrever o parto pela via vaginal. Contudo, um parto normal é aquele que ocorre sem problemas, sem intercorrências médicas.
Por outro lado, um parto pode ter suas intercorrências e, ainda assim, ser humanizado, pois tratou com dignidade e solidariedade a mãe e o bebê. Isso inclui desde a garantia legal da presença de um acompanhante até o contato imediato entre mãe e bebê após o parto.
Existe também a terminologia parto natural, que considera o parto normal sem uso de anestesia.
Um parto humanizado, então, pode ser natural, normal ou cesárea.
Como se realiza o parto humanizado?
Não há uma regra definida. Quem escolhe como será realizado o parto é a mulher gestante com base nas suas preferências de acordo com as informações que tem e sobre o seu caso.
Para que possa guiar melhor os profissionais envolvidos no processo do parto, a mulher pode elaborar um Plano de Parto. Este é apresentado à equipe que irá acompanhá-la, para que todas as decisões sejam pensadas com antecedência, afinal, isso evita surpresas de última hora.
O Plano de Parto, entretanto, não impede que a mulher mude de ideia no meio do caminho. Pode estar escrito no plano que ela não quer remédio para dor, mas no momento do parto ela mude de ideia. Isso é respeitar o corpo e as necessidades, que faz parte do parto humanizado.
Parto humanizado no hospital
É o tipo mais comum no Brasil, porque no hospital as mulheres se sentem mais seguras pela estrutura física oferecida. Para mulheres com algum risco na gestação, é o tipo mais recomendado.
Parto humanizado domiciliar
Ainda pouco comum no Brasil, é o parto em casa que é liberado para gestantes que tiveram um pré–natal tranquilo, sem doença crônica e que apresente condições favoráveis em todos os sentidos.
Apesar de a gestante estar em casa, profissionais de saúde podem e devem auxiliar nesse processo. Na Europa, recomenda-se uma equipe de pelo menos 3 profissionais: um para acompanhar a gestante durante o trabalho de parto, como uma doula; um para auxiliar no parto em si, como médico ou enfermeiro obstetra e um para cuidar do bebê, como pediatra ou enfermeiro neonatal.
Como a mulher se prepara para o parto?
Antes de tudo, o acompanhamento do pré-natal é fundamental para observar a saúde da mãe e do bebê. A informação também é a chave para uma mulher mais segura para o momento do parto.
A gestante interessada no parto humanizado pode se informar através de relatos de parto em blogs e no Youtube, livros específicos, artigos científicos e, claro, a conversa com obstetra nas consultas de pré-natal são alguns dos exemplos de locais e pessoas para obter mais informações.
As informações também são importantes para que a mulher possa escolher os profissionais com perfis que mais se encaixam aos seus desejos. Assim, pode ser obstetra, doulas, enfermeiros e familiares que estarão ou não presentes. Mas tudo isso se pensa antes do término da gestação.
Além disso, tem o Plano de Parto, elaborado com antecedência, que foi tratado no tópico anterior.
Passo a passo do trabalho de parto
O trabalho de parto se inicia dias ou semanas antes do parto, com o início de algumas contrações “de treinamento”. Mas agora vamos tratar dos 4 estágios do parto normal:
- Dilatação: contrações ficam ritmadas e regulares (intervalos de 5 minutos entre elas). Nesse momento, o colo do útero começa a se dilatar (“abrir”).
- Período expulsivo: Contrações ficam mais intensas e a dilatação já chegou ao seu máximo (10cm). A cabeça do bebê se encaixa no colo do útero e a gestante sente vontade irresistível de fazer força, que deve acontecer no mesmo momento da contração, até o bebê nascer.
- Dequitação: As contrações continuam após a saída do bebê, para que ocorra a saída da placenta. Dura de cinco a dez minutos.
- Greenberg: O útero sofre uma grande contração na primeira hora após o parto. São formados coágulos fisiológicos, para evitar hemorragia (perda de sangue) e é um momento de observação da mulher.
Vantagens do parto humanizado
Como o parto humanizado tem como característica o respeito à fisiologia da mãe e necessidades do bebê, pode-se dizer que ele tem muitas vantagens para ambos.
Nível de estresse e ansiedade reduzido
Uma gestante bem informada e preparada para o parto estará mais tranquila, pois saberá o que pode acontecer a cada momento. Além disso, se está com pessoas em que confia, se sentirá mais segura para o momento do nascimento.
Recém-nascido calmo
O respeito aos acontecimentos naturais do nascimento traz à vida um bebê sem grandes sofrimentos. Umas das práticas recomendadas é a manter o contato pele a pele de mãe e bebê na primeira hora após o nascimento, a chamada hora de ouro.
Uma mãe mais calma também transmitirá essa tranquilidade para seu recém-nascido.
Laço afetivo forte
Como a amamentação já começa na sala de parto, já se forma um vínculo entre mãe e filho mais precoce e forte, ainda “aproveitando” os hormônios do parto, como a ocitocina, que também é chamada de “hormônio do amor”.
Aleitamento prolongado
Além do contato pele a pele, também é recomendável colocar o recém-nascido no peito o mais rápido possível. Isso auxiliará no bom começo do aleitamento materno, que aproveitará da descarga hormonal de ocitocina do parto para a expulsão do leite. Um início de aleitamento materno tranquilo pode ajudar em um bom aleitamento materno no longo prazo.
Redução do risco de depressão pós parto (DPP)
Casos de depressão pós-parto podem acontecer de 4 a 8 semanas após o parto e podem ser desencadeados por diversos fatores. A falta de acompanhante na hora do parto, por exemplo, aumenta as chances de desenvolvimento da depressão pós-parto.
A violência no parto, assim considerada qualquer atitude que impõe um grau de sofrimento e dor evitáveis, seja com o corpo ou com sentimentos da mulher, também podem aumentar o risco de desenvolvimento de DPP. Assim, o parto humanizado diminui essas chances.
Redução do risco de infecção
Como em um parto humanizado há menor intervenção médica possível, o risco de infecções é bem menor. Além disso, com menos estresse da mãe (e bebê), o sistema imunológico não se fragiliza tanto, sendo capaz de auxiliar no combate de possíveis infecções.
Desvantagens do parto humanizado
- Sentir todo o processo de dor do parto – a principal desvantagem do parto humanizado é que a mãe precisa esta consciente que sentirá todas as dores do parto;
- A demora para o nascimento do bebê – por ser um parto feito com o mínimo de intervenções médicas possível, o processo de parto é longo;
- Mesmo que a gestante não tenha apresentado nenhuma anormalidade durante a gestação, na hora do parto, podem ocorrer imprevistos, como uma hemorragia, por exemplo.
Uma cesárea pode ser um parto humanizado?
Apesar de as pessoas pensarem que parto humanizado é só aquele em que a gestante dá à luz em uma banheira com água, em casa, esperando a hora de o bebê nascer naturalmente, uma cesárea pode sim ter características humanizadas:
- conversar com a gestante sobre aquele momento
- agir com respeito e delicadeza diante das fragilidades da gestante
- retirar a criança com o máximo de carinho possível e encaminhar os momentos posteriores ao parto com toda a consideração que a mãe merece.
Tudo isso deve ser óbvio no momento de qualquer tipo de parto.
Riscos do parto domiciliar
Os riscos existem como em qualquer outro parto, no entanto, precisa-se levar em consideração que a gestante estará em casa, distante de um centro hospitalar e isso pode agravar o quadro. Confira algumas situações:
Para a mãe:
- Retenção placentária ( pode ocasionar hemorragia)
- Ruptura uterina ( pode acontecer durante ou em seguida o parto)
- Ruptura de colo uterino e atonia uterina ( o útero não se contrai causando hemorragia)
- Laceração de partes frágeis do períneo (pode levar a hematoma anal e na bexiga)
Para o bebê:
- Falta de oxigenação, que pode causar deficiências neurológicas, motoras e de aprendizado
Quando a episiotomia se torna necessária no parto humanizado?
A episiotomia é um corte feito pelo médico para aumentar a abertura vaginal nos partos normais. Estudos mostram que a episiotomia realizada de forma seletiva, com a técnica correta (a mais recomendada é a mediolateral de 60º) e bem justificada pode proteger contra lacerações (rompimentos da pele) graves. Assim, não são todos os casos que o procedimento deve ser utilizado.
A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia afirma que “A realização de episiotomia, de forma rotineira e indiscriminada, em toda e qualquer parturiente não é benéfica. No entanto, a falha na indicação do procedimento, quando houver situação clínica em que é evidente a sua necessidade, é também prejudicial”.
Alguns casos de indicação (não oficiais) são os de mulheres com rigidez no períneo, parto pélvico (bebê está sentado), sofrimento fetal e excesso de peso do bebê.
Partos de prematuros também podem ter a indicação, já que a cabeça ainda não está formada de forma completa, o que evita hemorragias cranianas. Alguns médicos, ainda que nessas situações, não realizam a cirurgia em suas pacientes.
De qualquer maneira, a episiotomia deve ser realizada apenas com consentimento da paciente, com esclarecimento dos motivos para sua realização. Ela pode se recusar a passar pelo procedimento cirúrgico, desde que esteja ciente das consequências.
Planos de saúde cobrem o parto humanizado?
Pelas regras da ANS, os planos de saúde com cobertura obstétrica devem cobrir partos normal e cesárea. Os partos domiciliares não são de cobertura obrigatória, então deve ser avaliado no contrato de cada plano se é possível ou não.
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