O luto de Bella em Lua Nova: entre vampiros e lobisomens
Equipe Eurekka
Nós, que acompanhamos toda a saga Crepúsculo, sabemos que nossa protagonista sofreu mais com a partida de Edward do que com o ataque mortal de James, e até mesmo mais do que com a gravidez de um bebê vampiro. Por isso, o luto de Bella em Lua Nova com certeza vale uma análise.
Então, por aqui, vamos refletir um pouco sobre as atitudes dela à luz da psicologia e, é claro, a partir da visão de uma fã assumida. Afinal, entre vampiros, lobisomens e humanos, há muitas histórias trágicas para contar.
Boa leitura e bem-vindo(a) à Forks!
Índice
O Prelúdio
Lua Nova começa com um dilema: a passagem do tempo.
No dia do seu aniversário, Bella passa por algo que todos nós passamos, que é o medo de envelhecer. Exceto que no caso dela existe uma razão a mais para o sofrimento, já que ela continuaria a envelhecer enquanto o amor da sua vida permaneceria sempre igual, preso na eternidade de sua beleza e juventude.
No começo, também nos é apresentada a história de Romeu e Julieta, no filme que Edward e Bella assistem juntos.
Nesse clássico, Julieta Capuleto e Romeu Montéquio fazem parte de duas famílias inimigas, porém os dois acabam se apaixonando e se casando em segredo.
E a tragédia ocorre quando Julieta finge estar morta para salvar a ambos, porém Romeu acredita ser verdade e se suicida.
Edward e Bella não só assistem ao filme que adapta essa peça de Shakespeare, como debatem sobre as atitudes dos personagens e se comparam com eles. E essa parte é de extrema importância na história, pois se mostra um prelúdio do que viria a acontecer em Lua Nova.
A partida e a tragédia shakespeariana
Na noite do aniversário de Bella, ela acaba se cortando com o papel de presente e é atacada por Jasper, que não resistiu ao cheiro do sangue. Então, temendo pela segurança de Bella, Edward decide deixá-la, fingindo que não a amava mais.
Na psicologia, entendemos que o luto não acontece só quando alguém morre, mas sim quando perdemos algo que é importante para nós. Como o término de um relacionamento, por exemplo.
Então, sim, quando Edward vai embora, Bella entra em estado de luto. E a história traz claramente alguns aspectos disso, como a dor emocional intensa, a apatia, a necessidade enlouquecedora de ver Edward e a pouca importância que ela dá para sua vida sem ele.
Assim, a história se trata do modo como Bella tenta sobreviver sem Edward. E, depois, corre para salvá-lo.
Em toda a saga vemos citações de livros, como O Morro dos Ventos Uivantes, o favorito de Bella. Sendo que todos eles nos dão pistas sobre o relacionamento de Bella e Edward.
E com Romeu e Julieta não é diferente.
No fim, Edward acredita que Bella está morta e vai se entregar aos Volturi para que eles o matassem, tamanha foi a dor da perda que ele sentiu. O que é o mesmo enredo de Romeu e Julieta. Uma falsa morte e uma crença na mentira, que leva ao final trágico.
O luto de Bella em Lua Nova
Depois dessa retomada geral da história, vamos agora entrar em detalhes específicos do luto de Bella em Lua Nova que talvez você não tenha percebido.
A depressão
A depressão é uma das fases do luto. Ela geralmente acontece quando a ficha cai e a consciência de que a pessoa não vai voltar vem à tona.
Para a psicologia, essa é uma fase normal, que passa com o tempo se for tratada da maneira certa. Porém, há casos em que a depressão se estende, tomando proporções grandes e deixando de ser só uma fase.
É quando a pessoa não consegue seguir em frente e fica presa no estado depressivo, de modo que não avança para a outra fase do luto, que seria a superação. E é isso que acontece com Bella em Lua Nova.
No livro, temos as páginas que contêm só os nomes dos meses, de Outubro até Janeiro. Elas significam o tempo que Bella passou inerte, afundada em estupor.
No filme, isso pode ser visto pelo jogo de câmeras, de forma que ela fica sentada na mesma posição, vendo as estações passarem pela janela, sem ter nenhuma reação.
E, no livro mais claro que no filme, vemos que ela apenas existia por obrigação, por medo de deixar Charlie e Renée sozinhos. Ou seja, ela comia apenas para não morrer, sem vontade. Ia para escola apática e sem conversar com ninguém. Passava os dias sozinha e sem nenhum contato com os antigos amigos.
Além disso, até mesmo quando ela parece reagir, passando os dias com Jacob, percebemos que, no fundo, as coisas ainda não estão bem. Veja abaixo.
A dependência emocional
Quando lemos Lua Nova na adolescência, algumas coisas podem passar despercebidas. E ainda mais para aqueles que só viram os filmes, já que a situação a seguir fica ainda mais clara no livro.
Depois que Charlie força Bella a mudar de atitude e sair mais, ela começa a passar mais tempo com Jacob. E é claro que ela passou a gostar muito dele, como vemos no seguinte trecho:
“Foi um dia estranho. Eu me diverti. Mesmo no ferro-velho, com a chuva que caia e a lama até os joelhos. No início me perguntei se era só o choque depois de perder o torpor, mas não achei a explicação suficiente. Eu estava começando a pensar que era em especial por Jacob.” (MEYER, p.109, 2006).
Porém, com o tempo, passamos a perceber que Bella não estava melhorando, mas sim transferindo toda a dependência emocional que sentia por Edward para Jacob.
É claro que é de extrema importância ter amigos em uma fase tão difícil, mas Bella não buscava se distrair para melhorar, ela buscava preencher o buraco deixado por Edward com outra pessoa, mesmo admitindo que nunca sentiria por Jacob o que sentia por Edward.
E essa dependência é tão grande que ela prefere ignorar o quanto Jacob gostava dela romanticamente, porque precisava tê-lo por perto o tempo inteiro e não queria se afastar, mesmo que isso não fosse bom para ele, já que ela não o correspondia na mesma intensidade.
“Mas eu precisava de Jacob, precisava dele como de uma droga. Eu o usara como muleta por muito tempo e fora mais fundo do que eu pretendia ir com qualquer outro. Agora não conseguia suportar que ficasse magoado, e ao mesmo tempo não podia impedir que se magoasse. Ele achava que tempo e paciência me fariam mudar, e embora eu soubesse que ele estava tremendamente errado, sabia que o deixaria tentar.” (MEYER, p.160, 2006).
E essa situação de dependência fica ainda mais clara quando Jacob começa a passar pelas transformações em lobisomem e precisa se afastar dela.
Isso porque, além de ligar o tempo inteiro para a casa dele e procurá-lo com frequência, Bella se vê novamente sem chão depois da briga deles, quando ela finalmente o encontra.
“Chorei até dormir por causa daquele garoto. Sua rejeição cruel abrira um novo e doloroso buraco no que restava do meu peito. Ele deixara um novo pesadelo, como uma infecção numa ferida, aumentando ainda mais os estragos (MEYER, p.201, 2006).
Ou seja, é como se ela estivesse sempre passando de um para o outro, sem conseguir se mover sem um dos dois. Como se não existisse sozinha.
A barganha
Por fim, outro ponto super importante sobre o luto de Bella em Lua Nova é a sua barganha para ter Edward de novo.
Essa é uma fase real do luto em que a pessoa tenta negociar para que a pessoa volte, como fazer um acordo com Deus, por exemplo.
E, em Lua Nova, por mais que seja em um tom mais extremo e fantasioso, isso também acontece.
Na noite em que Bella sai com Jéssica, ela percebe que, ao se colocar em perigo, ela conseguia ver e ouvir Edward falando com ela. A partir de então, ela começa a se colocar em situações de risco por dois motivos.
O primeiro, é para ver Edward de novo. Ou seja, “se eu faço algo perigoso, eu posso vê-lo”. Como uma barganha.
E o segundo, é que ela quer quebrar a promessa que fez a ele de que iria se cuidar. Uma vez que ele teria quebrado a promessa dele de que seria como se ele nunca tivesse existido.
“Como se ele nunca tivesse existido, pensei desesperada. Que promessa mais idiota e impossível! Ele podia roubar minhas fotos e tomar de volta os presentes, mas isso não colocaria as coisas no lugar em que estavam antes de eu conhecê-lo. A prova material era a parte mais insignificante da equação. Eu tinha mudado, meu íntimo fora alterado de modo que ficasse quase irreconhecível.” (MEYER, p.95, 2006).
Ou seja, o tempo inteiro ela está apenas fazendo uma grande troca. Tudo ainda se tratava de Edward, tudo ainda era movido por ele.
“Então me deu um estalo. Eu queria ser idiota e imprudente, e queria quebrar promessas.” (MEYER, p.109, 96).
O luto de Bella em Lua Nova acaba?
Bella nunca superou o luto por Edward, pois ela só se sente completa de novo quando se encontra com ele e consegue salvá-lo. Isso fica perceptível quando ela tenta dar uma chance para Jacob, mas ainda assim pensando no que perdeu e no quanto nunca seria completa.
E, quando Alice volta, Bella se vê novamente no espiral de dependência emocional, como se Alice a pudesse salvar da dor imensa que sentia, simplesmente por estar ali. Variando, novamente, entre lobisomens e vampiros.
E isso sem contar que, quando Edward retorna para Forks, Bella se preocupa com deixá-lo triste por falar do quando ficou mal quando ele partiu.
Ou seja, ela negocia toda a tristeza que sentiu, como se não tivesse o direito deixá-lo preocupado com a dor que ele mesmo causou.
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2 replies on “O luto de Bella em Lua Nova: entre vampiros e lobisomens”
Adorei o artigo!!
Assim como o/a autor (a) também sou fã da Saga Crepúsculo. E adorei a cena do processo de depressão da Bella tanto no livro, mas principalmente no filme, porque é praticamente palpável sentir o que ela está sentindo.
Ei, Lua! Que bom que gostou do nosso artigo 💓
Sim, eles conseguem representar muito bem a dor que ela sente com a partida do Edward, né? Principalmente na hora dos pesadelos e nos momentos em que ela fica apenas existindo, vendo o tempo passar. É um filme bem intenso!
Abraços,
Gabi da Equipe Eurekka