Nota do Conselho Federal de Psicologia sobre Constelação Familiar
Equipe Eurekka
Na primeira sexta (3) de março, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma nota declarando um posicionamento contra a Constelação Familiar. O documento evidencia que há irregularidades na prática da Constelação, que infringem a ética existente na conduta profissional do psicólogo.
Segundo o órgão, a nota foi feita por conta da ampla divulgação desse método terapêutico na mídia e outros espaços, prometendo curar traumas e problemas.
De acordo com o CFP, em uma matéria em seu próprio site, “o documento foi elaborado por um grupo de trabalho instituído no âmbito da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf), composto pelo Conselho Federal de Psicologia e por representantes dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) das cinco regiões do país”.
Índice
O que é a Constelação Familiar?
A Constelação Familiar é uma forma de terapia, não reconhecida pela Psicologia, que procura identificar bloqueios emocionais de gerações ou membros da família. Essa técnica, inclusive, acontece individualmente ou em um grupo desconhecido de pessoas, que simulam a família, dispensando uma formação acadêmica do profissional aplicador como psicólogo.
Essa prática compreende que todos fazemos parte de um sistema, e só conseguimos alcançar certo equilíbrio na vida se essa mesma ordem também estiver estabilizada.
Assim, para o alemão fundador da Constelação, Bert Hellinger, autointitulado “psicoterapeuta”, mesmo sem nenhuma formação na área de psicologia, desde quando nascemos, estamos conectados à parte de uma família que, por si, produz um campo de energia em cada indivíduo.
Então, o objetivo dessa Constelação seria entender as influências das relações familiares de várias gerações que estariam presentes na vida do paciente. Sendo que, nesse “inconsciente familiar” do campo de energia, existem três leis presentes que regeriam o equilíbrio:
- a lei do pertencimento (que trataria da vontade suprema de querer pertencer a uma família);
- a lei da ordem (que diz sobre a busca do respeito pela hierarquia das gerações);
- e, por fim, a lei do equilíbrio (que tenta achar uma consciência entre o que se dá e o que se recebe dentro dessas relações familiares).
Quais os problemas da Constelação familiar, segundo a nota
A nota emitida pelo Conselho Federal de Psicologia denuncia algumas práticas da Constelação como não condizentes com as bases científicas teoricamente comprovadas da Psicologia e também com as leis que garantem o profissionalismo e o respeito do psicólogo com seus pacientes.
A princípio, o CFP relata que a Constelação não acompanha as formas contemporâneas do que se entende sobre o conceito de família, que variam entre composições biológicas e afetivas que não seguem um padrão de mãe, pai e filhos cisgêneros e heterossexuais.
De acordo com a nota,
A compreensão de família na Constelação Familiar parece estar assentada em pressupostos que naturalizam o vínculo biológico sem considerar aspectos históricos, sociais e políticos que engendram as famílias na contemporaneidade, compreensão esta que pode impor leituras moralizantes em relação a processos de ruptura de vínculos familiares, bem como servir de base para a exclusão das múltiplas configurações familiares que têm no afeto e no sentimento de pertencimento a sua vinculação familiar .
Em segundo lugar, a nota afirma haver, na Constelação, uma ordem de submissão a papéis de poder desiguais entre homens e mulheres, que “sugerem a reprodução da desigualdade estrutural de gênero que fundamenta a ordem social patriarcal”.
O Jornal da USP, a respeito de um podcast de análise de caso sobre a Constelação Familiar, comenta que
De acordo com essa teoria, todos na família têm um papel, e a transgressão desses papéis leva à agressão, incesto, dentre outras formas de violência. Também de acordo com Hellinger, nenhuma relação sexual, mesmo de estupro, pode ser dissolvida, deixando laços emocionais permanentes. Na teoria de Hellinger, existe uma clara hierarquia machista e patriarcal.
Dentre os diversos problemas transcritos na nota, o Conselho ainda expõe que a Constelação Familiar, diante dessa submissão, não respeita os direitos das crianças e adolescentes. Isso se dá ao fato desses se reprimirem e desprezarem suas dores frente aos pais, simplesmente por uma condição hierárquica.
Ademais, a Constelação ainda pode infringir a ética por trazer uma abordagem simplista de resolução em uma única sessão. Além de ainda contar com a falta de sigilo, ao tornar o momento de tratamento como público e de fácil acesso.
Alerta do Conselho Federal de Psicologia
O Conselho Federal de Psicologia finaliza a nota repudiando o uso profissional de técnicas não regulamentadas e com bases epistemológicas frágeis, como é o caso da Constelação Familiar. Ainda alerta sobre esse tipo de terapia que abre portas para diversas interpretações e aplicações, prometendo soluções apelativas.
Além disso, a nota afirma que a prática da Constelação Familiar pode gerar
conflitos de ordem emocional e psicológica tanto individuais quanto familiares, de modo que pode desencadear ou agravar estados emocionais de sofrimento ou de desorganização psíquica, exigindo assim um acompanhamento profissional psicológico e/ou psiquiátrico que não é oferecido durante as sessões.
One reply on “Nota do Conselho Federal de Psicologia sobre Constelação Familiar”
O mais engraçado é que a Psicanálise não tem base alguma científica (nem a terapia Junguiana, nem Fenomenologia, nem Sistêmica) mas essas o CFP aplaude de pé – sendo, inclusive, parte principal das formações dos psicólogos.
Enfim, a hipocrisia.