A relação entre Modern Love e Bipolaridade
Equipe Eurekka
Ao pensar no transtorno bipolar, talvez você se lembre de alguns adjetivos como: pessoas imprevisíveis, instáveis e explosivas. Mas, por ser um transtorno muito mais complexo que isso, vamos te explicar melhor sobre o assunto de um jeito bem interessante, com base na relação entre a série Modern Love e a Bipolaridade.
Por aqui, você vai saber mais sobre a série, entender como ela retrata o transtorno bipolar, descobrir o que a psicologia diz sobre isso e adquirir mais conhecimento sobre o que é de verdade a bipolaridade e como ela se manifesta.
Então, já prepare um café ou um lanche e bom proveito com essa leitura!
Índice
A série Modern Love
Essa série conta com episódios curtos e independentes entre si, mas que, ao mesmo tempo, acabam se entrelaçando em finais inesperados. E o mais legal é que a série foi criada a partir de uma coluna do jornal The New York Times, reunindo histórias de inúmeras pessoas com vidas totalmente diferentes.
Assim, já começamos a entender que obviedades não fazem parte dos episódios. Além disso, a sutileza e a profundidade dos personagens dão um toque especial à narrativa.
Dessa forma, o teor da série faz com que você perceba que o amor na vida real, em suas diferentes formas, ocorre e se desenrola entre os altos e baixos da vida. E é impossível adivinhar o final.
Modern Love e a Bipolaridade – episódio 3
No terceiro episódio da série, conhecemos Lexi (Anne Hathaway), uma incrível advogada, amiga, filha e companheira amorosa. Só existe um detalhe que muda todo o contexto: aos 15 anos de idade, Lexi recebeu o diagnóstico de transtorno bipolar.
E desde que os sintomas se manifestaram, a vida de Lexi se transformou num looping. Ela alterna entre extrema euforia, com picos produtivos, e depressão profunda.
Assim, a trama de Modern Love e a Bipolaridade se inicia como um musical em um supermercado, numa brilhante alusão à oscilação de humor de Lexi, que anuncia: “eu estava de bom humor, o que é meio que um problema.”
Ao se encontrar com um homem desconhecido na sessão de frutas, Lexi entra no estado de fixação pelo rapaz, chamado Jeff (Gary Carr). Por fim, a recepção acalorada de Lexi faz com que Jeff se sinta logo de cara envolto e curioso sobre a figura intensa que acabou de conhecer.
Como a bipolaridade se manifesta em Lexi
Com roupas brilhantes, cabelos impecáveis, falta de sono há 3 dias e energia fora do comum para uma manhã nublada num dia de semana, algo já nos salta aos olhos. Esses são sinais de alerta sobre o estado de Lexi.
O Transtorno Bipolar manifestado na personagem pode ser categorizado como bipolar tipo II, de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Isso porque ele envolve episódios depressivos e pelo menos um episódio de hipomania, sem envolver algum tipo de quadro psicótico.
E assim como muitas pessoas com transtorno bipolar em estado de hipomania — estado de humor que altera a necessidade de sono e alimentação, além de promover mais animo, produtividade e disposição — Lexi se sente imbatível.
Contudo, o que acontece depois disso, num curto período de tempo, faz com que Lexi se sinta devastada por completo: a depressão.
E esse é justamente o problema que você descobre no desenrolar da história. As alterações de Lexi sinalizam para nós que todo extremo pode ser muito perigoso. No caso dela, ainda havia todo o estresse causado por uma possível demissão a caminho — situação que não era nova para ela.
As mudanças bruscas da bipolaridade se manifestam nos mais variados contextos da vida de Lexi. Desde a hipomania com os picos extremos de energia no trabalho, na depressão com as mudanças de humor e até nos relacionamentos sociais sem pontos finais.
Inclusive, as relações interpessoais de Lexi são recheadas de tentativas para encobrir a sua própria condição, o que acaba afastando as pessoas. Assim, a personagem acaba sendo vista como exigente demais em relacionamentos românticos, segundo a sua única amiga de trabalho que ainda mantém breve contato, Sylvia (Quincy Tyler Bernstine).
Lexi, Gilda e Rita Hayworth
Lexi faz diversas alusões à Rita Hayworth, uma famosa atriz da década de 40 que interpretou a personagem principal no filme Gilda. Não por acaso, a atriz Rita também recebeu o diagnóstico de transtorno bipolar na vida real.
E a série mostra que os figurinos de Gilda no filme refletiam o estado de humor de Lexi quando ela estava na euforia da hipomania: vibrante, calorosa e vivaz. Já Rita, fora dos holofotes e longe das vestimentas sexys de Gilda, refletia o estado de humor depressivo de Lexi.
E essa percepção da personagem acontece, pois ela sempre escutou dos outros sobre as duas pessoas que ela parecia ser, da noite para o dia. Dessa maneira, ela passou a se enxergar de formas muito distintas entre si, a depender do estado de humor.
Como é o amor de uma pessoa bipolar? Lexi e Jeff
O amor de alguém com transtorno bipolar não se restringe aos sintomas e sinais da bipolaridade. Ou seja, a relação está muito além do diagnóstico. Mas, por outro lado, ele não pode ser desconsiderado, justamente pela natureza do transtorno bipolar e suas especificidades.
Isso significa que a bipolaridade corresponde a uma parte importante, mas não total, da vida da pessoa e do casal. Logo, tudo dependerá do nível de equilíbrio da relação.
O parceiro de alguém com transtorno bipolar também influenciará na qualidade do relacionamento e na forma como o amor se desenvolverá ao longo do tempo. De fato, é vital ter um parceiro que também se empenhe na manutenção saudável da relação e seja compreensível.
Na série, assim como pode acontecer na vida real, Lexi apresenta reações emocionais que variam entre desinteresse e mania — no sentido de fixação — por Jess, sem que ele saiba de sua condição.
Assim, ao desconhecer a condição de Lexi e sofrer com as intempéries emocionais da moça que está sem o tratamento adequado, Jess opta pela sua autopreservação. E isso nos mostra a importância da pessoa com bipolaridade ser clara sobre sua condição e procurar meios de manter a relação equilibrada.
Na vida real, é possível sim estabelecer um relacionamento amoroso saudável tendo o diagnóstico de transtorno bipolar. Afinal, toda relação precisa de cuidado e manutenção, mesmo que não tenha algum transtorno envolvido.
Porém, o ideal é que o bipolar esteja em tratamento com o psicólogo e com o psiquiatra, além de encontrar um parceiro para partilhar a vida sem estresses e desequilíbrios severos. Assim, as crises serão mais brandas e a pessoa terá mais autoconhecimento e domínio dos sintomas.
Modern Love retrata bem o Transtorno Bipolar?
Ao ver a bipolaridade em Modern Love, você pode se perguntar “isso também acontece na vida real?”, e a resposta rápida é: sim. Claro que há diferenças entre os diversos contextos que existem, logo, o que acontece ali pode não representar com exatidão todas as pessoas com o transtorno bipolar.
É crucial lembrar, por exemplo, que a intensidade, frequência e duração entre a alternância dos episódios pode variar para cada pessoa com o transtorno.
Então, mesmo não sendo o retrato fiel de todas as pessoas com transtorno bipolar, a série cumpre o seu papel ao inserir o telespectador na atmosfera da brusca e rápida mudança de humor — característicos do transtorno.
Outro ponto importante retratado é o estigma associado à bipolaridade, junto com a vergonha pela condição, que trazem à tona o retrato fidedigno de um bipolar sem o tratamento terapêutico e medicamentoso adequado.
Além disso, as taxas de absenteísmo de Lexi no trabalho também refletem outro ponto de alerta do transtorno bipolar.
E não é a primeira vez que o transtorno bipolar é exposto em uma série. A Netflix também mostrou a bipolaridade em “Spin Out”. Nessa história, a protagonista, que é uma patinadora do gelo, e sua mãe possuem o transtorno. Quer saber mais? Então leia a Análise psicológica da série Spin Out que a Eurekka fez!
A importância do tratamento adequado
Assim como todo transtorno mental, nós não falamos em cura para o transtorno bipolar. No entanto, com o tratamento e medicação bem ajustados, é possível alcançar a tão desejada remissão e qualidade de vida.
Não será um caminho fácil, mas em terapia o paciente aprende a identificar com antecedência os polos da depressão e da mania (ou hipomania). Dessa forma, as chances de recaídas diminuem, porque a pessoa já sabe identificar os mínimos sinais de que algo não está bem com ela e quais medidas tomar.
Em Modern Love, ao longo da narrativa, nos deparamos com a vida de Lexi sendo virada do avesso desde a adolescência, quando os sintomas começaram a se manifestar. E, mesmo numa inconstante e angustiante vida com mudanças de humor e inúmeros tratamentos, Lexi parecia continuar nos mesmos ciclos.
Esses ciclos podem fazer com que o telespectador pense que a bipolaridade não tem solução. No entanto, no final, a mudança de postura de Lexi faz com que tudo se alinhe, e a esperança é instaurada.
Assim, como ela mesma reforça, as mudanças de humor ainda acontecem, mas sem o sofrimento que antes refletia em retraimento e isolamento social, por exemplo.
Infelizmente, há uma alta incidência de pessoas diagnosticadas com o transtorno bipolar que não seguem o tratamento medicamentoso e terapêutico de maneira efetiva.
Os motivos para isso ocorrer são diversos: um deles, observado por profissionais, são pessoas que preferem viver na adrenalina da doença. Contudo, se esquecem que o período de depressão virá, causando dificuldades.
Cuide da sua saúde mental na Eurekka
Na relação entre Modern Love e Bipolaridade, podemos ver como é vital fazer o tratamento adequado. E isso não é só para os casos de transtorno bipolar, mas serve para qualquer transtorno. Aliás, até mesmo pessoas que não têm nenhum diagnóstico, mas sofrem com questões que atrapalham a saúde mental, precisam de tratamento.
E você sabia que a Eurekka possui tanto tratamento com psicólogos quanto com psiquiatras? Nossos profissionais são escolhidos a dedo e passam por diversos treinamentos para garantir que você receba um tratamento gentil, humanizado e eficiente, seja qual for a sua demanda.
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5 replies on “A relação entre Modern Love e Bipolaridade”
Ótima análise. Gostei muito desse episódio e como vcs salientaram, nem toda pessoa bipolar passa pela mesma coisa. A série traz uma visão geral e um olhar empático com a personagem.
Ei, Thai! Ficamos muito felizes em saber que gostou do nosso conteúdo, principalmente em relação a esse assunto tão delicado!
Continue acompanhando a gente por aqui!
Abraços, Gabi da Equipe Eurekka 💛
E essa remissão que vcs dizem, desde criança a procuro. Ser bipolar vai muito além de depressão e mania, é um transtorno neuroatipico, nosso foco é afetado, cognição , memória e isso independente das crises . Nosso cérebro é diferente . Incrível a contradição de vcs falarem de preconceito ao mesmo tempo que nós coloca como tipo de pessoa que se tiver sem tratamento somos impossíveis . O tratamento traz controle das crises , tendem a ser mais brandas . Mas mesmo assim, em momentos de estresse novas crises podem surgir .
‘auto preservação’, como assim?
Não somos monstros . Mesmo em tratamento , muitas vezes os ciclos são persistentes , se a pessoa não tem a compreensão , até por que Todos nós temos nossos defeitos, pode se auto preservar .
Parem de falar sobre nós . Seria um favor