Entenda os impactos da tragédia no litoral norte paulista

Equipe Eurekka

Psicólogo da Eurekka ressalta que calamidades como essa exigem um olhar humanizado não só sobre os danos físicos, mas também mental das vítimas no litoral norte paulista.


Ocorreram, entre os dias 18 e 19 de fevereiro deste ano, intensas chuvas no litoral norte de São Paulo. O chamado por especialistas de “evento climático extremo”, atingiu fortemente cidades como São Sebastião e Bertioga.

Durante as chuvas, enchentes e desabamentos afetaram toda a região. Essas fatalidades causaram a destruição de casas e prédios, levando à morte e ao desaparecimento de inúmeras pessoas das comunidades que residiam ali.

tragédia do litoral norte
Sérgio Barzagui/ Governo do Estado de São Paulo

A atuação do Governo diante da tragédia

De acordo com dados divulgados no site do Governo de São Paulo, algumas medidas federais estão sendo tomadas para conter os impactos da situação. Entre elas, estão: repasse de R$ 2 milhões para defesa civil em São Sebastião e Guarujá (SP); prioridade em programas habitacionais; alojamentos provisórios e cestas de alimentos e, até mesmo, antecipação do Bolsa Família para as vítimas. 

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) confirma que foi enviado ao Governo do estado de São Paulo um aviso antecipado. Inclusive, a Prefeitura de São Sebastião, também foi avisada sobre a possibilidade de deslizamentos. 

Entretanto, uma matéria do G1 sobre o tema relata que, na véspera da tragédia, houve problemas com o alerta de chuvas feito pelo governo paulista. O texto enfatiza que, “mesmo cientes do risco de desastre com dois dias de antecedência, as autoridades não alertaram a população devidamente sobre a dimensão do perigo. O governador Tarcísio de Freitas disse que as mensagens de SMS disparadas para parte da população não tiveram efetividade“.

Além disso, a notícia divulgada pelo G1 também denuncia que em Vila Sahy, bairro de Sebastião mais afetado pela tragédia, há uma carência de políticas públicas para “regularizar a região”. Esse local castigado pelas chuvas extremas é uma potencial área de risco para que aconteçam desastres naturais. Além de, primeiramente, também ser uma área de preservação ambiental. 

O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) se manifestou prestando solidariedade às vítimas e lamentando a perda de vidas, os danos materiais causados e também o sofrimento psíquico provindo da tragédia. O CRP-SP reforça que “emergências, desastres e catástrofes são questões de saúde e intervenção pública e cabe aos governos darem total assistência às vítimas em todos os campos”.

litoral norte - impacto psicológico
Reprodução

A tragédia e a ligação com a desigualdade social

A tragédia que aconteceu no litoral norte paulista trouxe à tona algumas discussões que transcendem o termo “desastre natural” para rotular o acontecimento. Isso se dá já que há negligência humana envolvida. 

Norma Valencio, professora e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da UFSCAR, explica a desigualdade social e as pessoas mais carentes. O motivo se dá que essas catástrofes geralmente atingem pessoas vulneráveis, que vivem em moradias incorretas e que não têm como morar em outro lugar:

O que resta para os pobres é, na maioria das vezes, a ocupação irregular com um mercado de terras informal, paralelo, em áreas não apenas intrinsecamente inseguras, mas onde os infrassistemas públicos que mencionei são inexistentes, insuficientes ou inadequados. É isso que, ao se somar às relações de trabalho e renda, faz com que as condições de habitar sejam também suscetíveis, do ponto de vista do material construtivo que se usa para erguer casas, sem apoio técnico, em terrenos inseguros, onde a infraestrutura é precária. Olha quantos componentes eu citei além de dizer que ‘ele escolheu morar na área de risco’. Isso não é escolha, mas a falta dela, comenta a especialista ao jornal A Pública

A atuação da Psicologia em situações de emergência

Como dito pela CRP-SP, em casos de desastres como a do litoral norte paulista, as vítimas perdem a moradia e pertences físicos. Só que, além disso, também acabam sofrendo traumas psicológicos por conta do impacto imprevisível que esses eventos causam.  

Uma pesquisa de 2015 feita por duas doutoras, uma em Psicologia e outra em Saúde Mental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),  aponta que a interferência na integridade mental das pessoas acometidas por tragédias pode manifestar sintomas como “manifestações de estresse agudo, estresse pós-traumático, luto complicado, quadros depressivos, comportamento suicida, condutas violentas, consumo indevido de substâncias psicoativas, entre outros”. 

Ademais, a Organização Mundial da Saúde (OMS), junto a Organização Pan-Americana da Saúde, publicou em 2015 um manual de Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP). O objetivo do lançamento é auxiliar os trabalhadores de campo no atendimento às vítimas abaladas e expostas a situações graves. 

Os PCP são atitudes emergenciais humanizadas, de apoio e contenção do sofrimento, que qualquer pessoa pode oferecer. Então, não se caracterizam como um atendimento profissional para, por exemplo, pedir que as vítimas revivam detalhadamente o ocorrido com o objetivo de sugerir um diagnóstico. 

Nesses momentos de alerta, todavia, o foco no uso da Psicologia parte da observação, escuta e aproximação. A partir daí, devem ser oferecidos conforto, proteção e ajuda no acesso às necessidades básicas. 

Luiz Eduardo, psicólogo da Eurekka, enfatiza, assim como a OMS, que um olhar humanizado e uma comunicação responsável são as chaves para uma primeira assistência eficaz às vítimas.

Os sobreviventes de tragédias normalmente estão desesperados e desnorteados. Então, na hora de atendê-los, é importante manter uma postura calma, ouvir desabafos, não ser incômodo ou invasivo nas respostas e ajudá-los com alimentos e abrigo em segurança. Até mesmo, é ideal saber a hora de encaminhá-los a um acompanhamento profissional, já que as respostas do corpo às catástrofes podem desencadear insônia, falta de apetite, culpa, humor deprimido, isolamento, dentre outros sintomas, diz o psicólogo.


Se leu esse texto até o final e se sentiu reconhecido por estar envolvido numa situação parecida, não hesite em buscar ajuda profissional. Clique aqui e receba um serviço humanizado da Eurekka.

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