João Carvalhaes: o polêmico caso do psicólogo na Copa de 58

Equipe Eurekka

E se eu te dissesse que Pelé quase ficou de fora da Copa do Mundo de 1958? Mas para te contar o porquê disso eu vou voltar um pouco a fita e falar sobre João Carvalhaes

Um dos grandes pioneiros da Psicologia no esporte, as técnicas de João Carvalhaes chocaram o mundo na época e até hoje causam polêmicas. Quer descobrir mais sobre essa história? Então vem comigo que eu te conto!

Boa leitura!

Quem foi João Carvalhaes?

João Carvalhaes, paulista da cidade de Santa Rita do Passo Quatro, marcou a história da Psicologia do Esporte com métodos não tão compreendidos na época em que atuava. 

Com um longo currículo, Carvalhaes recebeu habilitação para o magistério em 1935 e concluiu o curso de Bacharelado em Ciências Políticas na Escola Livre de Sociologia no ano de 1944.

Além disso, Carvalhaes teve registro profissional em Jornalismo e Psicologia, nas quais foi muito atuante. No Jornalismo, ele escrevia artigos sobre o boxe sob o pseudônimo de João do Ringue. Já na Psicologia, ele trabalhou em empresas na área de psicotécnica e seleção de pessoal.

Fazia parte do seu trabalho, na área da Psicologia, a aplicação de testes de nível mental, de interesses e de personalidade.

Um fato interessante é que, nessa época, o Brasil vivia a pós-revolução industrial e a mão de obra qualificada era muito necessária, por isso a experiência de Carvalhaes foi muito útil dentro desse cenário.

Mas e onde o futebol entra nisso tudo? Calma que acabamos de chegar lá!

Por causa da sua experiência em Psicologia e interesse em esportes, João Carvalhaes atuou em três grandes cenários do futebol: na escola de árbitros na Federação Paulista de Futebol (FPF), no time do São Paulo e na seleção brasileira na Copa de 58. Assim, seu trabalho era aplicar técnicas e testes voltados para o psicológico dos jogadores.

Legal né? Veja em detalhes nos próximos tópicos.

João Carvalhaes: a psicologia no time do São Paulo

Por conta de seu trabalho na FPF, na qual ele fundou um laboratório de Psicologia, em 1957 os dirigentes do time do São Paulo contrataram João Carvalhaes. 

Lá, ele acompanhava os treinos, observava os jogadores e realizava diversos testes com os atletas, como os de inteligência, personalidade e de habilidades específicas. Dessa forma, com esses testes, ele poderia orientar e direcionar melhor os jogadores.

E o mais interessante é que o trabalho funcionou! Afinal, o São Paulo foi campeão paulista em 1957,  depois de ter ficado 4 anos sem ganhar um título!

seleção brasileira de 58
Acervo CBF

O trabalho de Carvalhaes na Copa de 1958

Com os bons resultados na sua carreira, um ano depois da vitória do São Paulo, João Carvalhaes foi convocado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para fazer parte da comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa de 1958. E, com o convite de Paulo Machado de Carvalho, a decisão foi definitiva. Carvalhaes estava na Copa. 

Ele usou de técnicas aplicadas no time do São Paulo para preparar o time do Brasil e ajudar até mesmo na escolha de jogadores. Um dos testes foi o teste Alfa do Exército, que foi adaptado de um programa americano para medir a capacidade intelectual de soldados na Primeira Guerra Mundial.

O teste durava, em média, 50 minutos e determinava a capacidade aritmética e vocabular dos atletas. Mas, para alguns considerados “menos capazes”, era dado o teste Beta ao invés do Alfa, no qual os jogadores tinham que completar desenhos e fazer trajetos em labirintos.

Hoje esses testes são vistos de outra maneira e existem novas técnicas, porém, naquela época, foi um avanço muito grande, já que era quase inexistente a ideia de unir a psicologia e o futebol. Relação que vem sendo muito percebida e desenvolvida nos dias de hoje. 

Por fim, após muitas observações e testes, João Carvalhaes encaminhou suas conclusões para a comissão técnica da seleção. Essas informações vazaram para a imprensa e geraram um alvoroço, pois, pela pontuação baixa de Garrincha, parecia que ele não seria escalado para a Copa.

Mas depois que o craque foi confirmado, os ânimos se acalmaram. Assim, Carvalhaes viajou com a equipe para a Suécia, local da Copa do Mundo naquele ano.

Lá, ele continuou seu trabalho, aplicando testes chamados de psicodiagnóstico miocinético (PMK), os quais analisariam as características individuais dos jogadores e ajudariam no trabalho com o time. 

Opiniões controversas

Lembra que falei que Pelé quase ficou de fora dessa Copa? É aqui que essa história entra!

No livro Pelé – A Autobiografia, o craque conta que, após os testes, João Carvalhaes não o considerou apto para jogar.

“Quanto a mim, o psicólogo concluiu que eu não deveria ser escalado: ‘O Pelé é obviamente infantil. Falta a ele o espírito de luta necessário”.

Além disso, Pelé também fala que Garrincha quase ficou de fora: “Também deu um parecer contra o Garrincha, que não era considerado responsável o suficiente”

E é claro que isso gerou muitas controvérsias! Mas acabou que o técnico, Vicente Feola, não acatou a decisão de Carvalhaes e escalou ambos.

Porém, apesar disso, ainda há atletas que se mostram mais favoráveis a João Carvalhaes. Como, por exemplo, o goleiro Gilmar que afirmou que o psicólogo ajudou os jogadores a colocar em prática ideias que melhoravam o desempenho e que só depois da Copa é que eles perceberam isso.

Além dele, o lateral Nilton Santos também saiu em defesa de Carvalhaes, dizendo que os jogadores aprenderam a “entrar em campo sorrindo”.

No entanto, mais opiniões contrárias vêm aí. Além de Pelé, a CBD também teve opiniões avessas às de João Carvalhaes, fato que abalou muito seu emocional. 

E, apesar desse cabo de guerra, o fato é que Carvalhaes foi muito reconhecido em outros países e abriu caminho para a Psicologia do Esporte no Brasil. 

É inegável sua contribuição para que os times de futebol recebessem suporte psicológico e melhorassem a performance a partir do cuidado com a mente.

A evolução da Psicologia do Esporte

Pesquisas indicam que os primeiros indícios da Psicologia do Esporte surgiram na Europa e nos Estados Unidos no final do século XIX. Como, por exemplo, publicações norte-americanas sobre motivação no ciclismo. 

Já no Brasil, podemos ver indícios dessa área a partir dos anos 1930, como o artigo Educação Física e Educação Psíquica (1933) escrito por Plínio Olinto na Revista da Escola de Educação Física do Exército, fundada em 1932. 

E é interessante notar como esses artigos estavam em consonância com as ideias políticas da época, como na época do governo Vargas e da Segunda Guerra Mundial, entre 1930 e 1940, quando podiam-se encontrar textos do tipo “A importância da Educação Física para um povo” (1932) ou “A Eugenia e a Constituinte, Higiene Prática – o banho de Sol” (1933).

Já em 1945, podemos encontrar artigos mais consolidados que falam sobre a Psicologia e o Esporte, como o periódico da Revista da Escola Nacional de Educação Física e Desportos, a qual já continha uma divisão de psicologia aplicada com escritores especialistas na área.

E, na década de 50, temos João Carvalhaes, aplicando a Psicologia dentro do esporte. 

Hoje, essa área já está bem maior, de modo que muitos times, em principal os europeus, já contam com suporte psicológico na comissão técnica. 

Além disso, observam-se diversas áreas em que é possível unir a Psicologia e o esporte, como projetos sociais, esporte de rendimento, sessões de terapia para atletas e outros!

Então, apesar de ainda precisar de mais visibilidade, tem se tornado cada vez mais evidente a relação entre essas duas áreas. Como os benefícios de cuidar da mente dentro do ambiente esportivo e o alívio emocional através do esporte. 

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