É possível esquecer a língua materna morando no exterior?
Equipe Eurekka
Morar no exterior é uma experiência única e desafiadora, não é mesmo? Por mais que seja muito legal conhecer outra cultura e visitar novos lugares, existem sim algumas preocupações para quem mora no exterior, como a linguagem. Por isso, no texto de hoje, vamos esclarecer se é possível esquecer a língua materna.
Ao imergir em outra língua e em outras culturas, é normal que a pessoa tenha dificuldade em fazer algumas ligações com a língua materna, que acaba sendo menos usada. Assim, pode acontecer de esquecer algumas palavras, trocar significados e outras questões.
Então, se você se identifica com esses casos, leia este texto até o fim e descubra tudo sobre o assunto. Boa leitura!
Índice
É possível esquecer a língua materna?
Quando você aprende um novo idioma, o primeiro passo é usar a sua língua materna como base de comparação. Você procura relacionar o modo como as frases são construídas e o que é diferente/igual ao da sua língua.
Mas, quando você passa a dominar esse novo idioma, você não precisa mais dessas comparações, uma vez que você já entendeu como funciona a estrutura dessa nova língua.
Assim, apesar de ainda estarem ligadas, o fato de você não precisar passar por um idioma para chegar ao outro, faz com que você possa deixar a língua materna um pouco de lado. Afinal, ao morar no exterior, você usa mais a língua daquele lugar.
Quando você precisa falar o nome de um objeto, por exemplo, você faz um controle instantâneo de qual signo você vai usar: faca ou knife. Assim, você suprime um e seleciona o outro. E, a partir do uso frequente de um em detrimento do outro, esse controle de escolhas pode se tornar mais “fraco”, indo diretamente no mais usual.
Assim, é uma questão de dominância pelo uso e não de esquecimento.
Pesquisas têm indicado que é praticamente impossível um adulto esquecer a língua materna e que isso só acontece em casos raros, como traumas psicológicos.
Já com as crianças, isso seria mais fácil de acontecer, já que nessa fase o cérebro é mais adaptável e as habilidades linguísticas ficam mais suscetíveis às mudanças. O que tem se percebido em adultos que moram no exterior é o chamado “atrito” e vamos explicar isso agora!
Atrito linguístico
O atrito linguístico pode parecer complicado de entender, mas, na verdade, ele acontece o tempo todo com você que mora fora!
Esse atrito é um fenômeno que ocorre quando o modo de falar a língua materna é alterado pelo seu desuso ou predominância de outra língua! Fácil, né? Ou seja, é quando você sente certa dificuldade na fluência da sua língua materna, muda o sotaque e até troca o significado de algumas palavras.
“Uma L2 (língua 2), ao tornar-se mais prevalente no contexto diário de uso e mais dominante no cérebro de um bilíngue, passa a exercer mais influência na L1 (língua 1), fazendo com que esta comece a ser produzida com características da L2″ ( Kupske, Alves, Lima Jr., p.99, 2021)
Esse atrito linguístico não é causado por nenhum dano cerebral, mas sim pelo uso de uma outra língua em detrimento de outra. Por isso ele é tão frequente em pessoas bilíngues e, principalmente, naqueles que têm alta fluência em 2 ou mais idiomas.
O que é o caso de pessoas como você, que moram fora e estão totalmente imersas em uma outra língua e cultura.
Como funciona o cérebro de quem fala mais de uma língua?
Sabia que falar mais de uma língua muda até mesmo a estrutura do cérebro? Certas áreas relacionadas à linguagem são um pouco mais robustas em pessoas bilíngues, por conta do uso repetitivos de certos processos cognitivos, sendo eles:
Isso acontece porque pessoas que falam mais de uma língua exercitam mais esses processos cognitivos, ainda mais pessoas que estão imersas nessa língua em outro país. Entenda, não é uma questão de ser mais inteligente, mas uma questão de exercitar mais essas áreas.
É como comparar alguém que faz atividades físicas de forma frequente e alguém que não faz!
Dificuldades com a língua materna quando você mora no exterior
Mas é claro que nem tudo são só vantagens, não é mesmo? Você que mora no exterior sabe, mais que ninguém, que pode ser difícil conciliar dois ou mais idiomas e ainda trabalhar para não esquecer a língua materna.
Então, aqui vão algumas dificuldades pelas quais você pode estar passando!
Dificuldade em alternar entre duas línguas
Você já recebeu uma ligação de alguém que fala sua língua materna, alguém da família, por exemplo, e sentiu dificuldades de “desligar o interruptor” da sua segunda língua?
Pois é, ao estar imerso no dia a dia em outra língua e em outra cultura, você pode travar um pouco na hora de falar sua língua materna, uma vez que você já está acostumado a usar a língua do país em que você se encontra.
Assim, no início da conversa, você pode soar até um pouco lento e artificial, mas depois vai pegando o ritmo.
Trocar significados da língua materna
A língua não pode ser separada da cultura de um povo. Por isso, ao estar inserido em outra cultura e em outra língua, você pode acabar trocando alguns significados próprios da língua materna, uma vez que está acostumado com outros signos que se referem à mesma coisa.
Isso pode acontecer com falsos cognatos, por exemplo. Como no inglês em que a palavra pretend, significa “fingir” e não “pretender”, assim a pessoa que mora em um local onde se fala inglês, pode usar a palavra pretender para “fingir”. Não porque ela não saiba que é um falso cognato, mas porque já está acostumada com o significado atribuído a esse signo.
Mas esse é apenas um dos casos, existem diversas situações em que essa troca de significados pode acontecer!
Esquecer como se falam certas palavras
Outra situação muito comum é o momento em que se fala a famosa frase “como se fala isso em português?” ou “não sei se tem uma expressão para isso em português”.
Isso acaba acontecendo por você estar tendo tão pouco contato com a língua materna, que acaba por esquecer como se falam certas palavras.
Mas calma, isso não significa que você esteja esquecendo a língua materna de vez, apenas que o seu contato com essa língua está baixo, assim ela acaba ficando em “segundo plano”.
Dicas para conciliar as línguas e não esquecer a língua materna
Se você se identificou com os casos acima, você precisa ver essas dicas preciosas que nós preparamos para você. Seguindo esses passos, você vai conseguir conciliar bem as duas ou mais línguas e se livrar de vez dessa impressão de estar esquecendo a língua materna!
1. Treine seu cérebro
Para treinar seu cérebro você pode fazer algumas atividades na sua língua materna, como assistir a filmes, ouvir músicas, ler jornais, livros e revistas em sua língua original.
Sabe quando você está aprendendo uma língua nova em um cursinho e eles passam exercícios de escuta e leitura? Então, é o mesmo princípio!
Ao escutar e ler mais coisas na sua língua materna, você vai se familiarizar de novo com os sons, palavras e modo de escrita dessa língua! Além de relembrar expressões culturais únicas.
2. Não traduza
O problema de tentar traduzir a língua na qual você está inserido agora para o português, na hora da fala, é que você pode acabar trocando a palavra certa em português por uma que apenas se pareça com aquela na língua em que você está agora.
Por exemplo, em seu blog, a jornalista Anelisa, que vive em Roma desde 2001, conta: Troquei “narinas” por “narizes”, palavra mais próxima do italiano “narici”. Usei a palavra “convivialidade“ para dizer sociabilidade.
Por isso, é importante não traduzir, mas sim exercitar a língua materna para que você não precise passar tanto pela L2 para chegar até ela.
3. Fale com seus parentes na língua materna
Falar é uma das melhores práticas para aprender uma língua, tanto que você deve ter melhorado muito na sua segunda língua ao imergir nela morando fora, certo?
E com a língua materna é a mesma coisa! Então, faça ligações regulares para seus parentes e se dedique ao máximo para conseguir falar bem na sua língua materna, ouvir os sons das palavras que eles falam e treinar o que você acha que tem esquecido.
Leia também: Como lidar com a saudade de quem mora longe?
4. Escreva mais na língua materna…
Escrever é essencial para gravar a estrutura da língua. Muitas vezes, ao falar ou ouvir, você pode não prestar atenção na estrutura da frase ou, apesar de falar bem, tem dúvidas quanto à ortografia.
E a escrita é ótima para treinar isso, pois você terá que prestar mais atenção na ordem dos elementos da frase, à grafia e ao modo como os integrantes da frase se relacionam entre si!
Além disso, sabia que a escrita tem um grande poder terapêutico? Ao escrever sobre como você se sente, você pode tirar um grande peso das costas e ainda praticar o autoconhecimento!
Imagina como seria legal praticar a língua ao mesmo tempo em que faz um pequeno desabafo? E você pode aprender mais sobre a escrita terapêutica clicando aqui!
5. …mas não deixe de emergir na língua do país em que você está!
Veja bem, a intenção aqui não é substituir uma língua por outra, mas conseguir conciliar as duas, de forma a usar ambas dependendo da necessidade.
Por isso, pratique essas técnicas para não parecer que está prestes a esquecer a língua materna, mas não deixe de se aprofundar no idioma do país em que você está, ok?
Você pode, por exemplo, durante todo o dia, falar apenas no idioma local e a noite tirar um tempo para treinar a língua materna!
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