É assim que acaba: como a trama construiu a violência doméstica

Equipe Eurekka

Inspirado no livro de Colleen Hoover, É assim que acaba estreou nos cinemas brasileiros no dia 8 de agosto. Com uma temática sensível, essa obra nos leva a refletir sobre os aspectos da relação abusiva que, infelizmente, muitas mulheres enfrentam.

Pensando nisso, neste texto, nós vamos analisar através da Psicologia como o filme apresenta essas camadas da violência doméstica, desde os sinais mais sutis até os mais óbvios.

Confira!

Ps: contém spoilers

Um breve resumo da história

O filme conta a história de Lily Bloom (Blake Lively), uma mulher criativa e apaixonada por flores, que tem o sonho de abrir sua própria floricultura. 

Com sua personalidade única e sua alegria contagiante é de se surpreender que sua história seja marcada por um passado tão triste: a violência doméstica que seu pai cometia contra sua mãe. 

Lily nunca imaginou passar pela mesma situação, até que conhece Riley. Um neurocirurgião charmoso e divertido. 

Os dois nutrem um romance bonito e envolvente, até que Riley começa a dar sinais preocupantes.

Afinal, será que o ciclo irá se repetir novamente?

Como É assim que acaba retrata a violência doméstica

É muito interessante o modo como É assim que acaba retrata a violência doméstica, pois mostra como pode ser difícil para a mulher entender a situação em que se encontra.

Veja abaixo como isso acontece!

O abuso que passa de geração em geração

Lily cresceu vendo sua mãe sofrendo abusos de seu pai, como agressões físicas e estupro. 

Então, quando ela se encontra na mesma situação, ela se assusta com como foi fácil acabar sofrendo o mesmo tipo de coisa que ela tanto repudiava. 

E, na vida real, isso também acontece muito. Mesmo sendo de uma geração que tem mais consciência sobre o assunto, muitas mulheres, sem querer, acabam repetindo o mesmo padrão das gerações passadas.

Os primeiros sinais

Na trama, É assim que acaba deixa pistas da falta de controle de Riley desde o início, mesmo que de forma sutil.

Na primeira cena em que ele aparece, no telhado em que Lily está sentada, Riley surge tendo um acesso de raiva e chutando uma cadeira com força para descontar a frustração de um dia difícil. 

Depois, quando ele se queima e acaba batendo em Lily, o telespectador fica em dúvida, afinal, não foi só um reflexo por ter queimado a mão? Ela não estava só no lugar errado na hora em que ele fez o movimento de tirar a mão do forno?

E, logo depois, Riley apresenta novamente um comportamento agressivo no restaurante de Atlas. 

Ao ver Lily saindo do banheiro com ele, que teve um lugar muito especial na vida dela, Riley começa a se portar de maneira possessiva, resultando em uma briga física com Atlas.

Esses são os primeiros sinais que, à primeira vista, podem não parecer tão óbvios, principalmente para Lily, que estava envolvida na relação e acostumada a vê-lo como um homem amoroso e respeitoso.

Lily e Ryle
Lily e Ryle | Reprodução

A violência sutil

Ou seja, É assim que acaba mostra como nem sempre a violência é óbvia.

Riley não se comportava como o pai de Lily, tanto que, nas primeiras agressões, o telespectador vê tudo do ponto de vista de Lily, a qual sempre ficava em dúvida do que aconteceu.

Ela não sabia se ele bateu mesmo nela ou se realmente a empurrou da escada, no momento parecia só um acidente. 

Só depois de um ato de violência explícita, em que ela pede para ele parar e ele se recusa, é que ela percebe que todos os outros “acidentes” foram realmente atos violentos. 

Dessa forma, podemos ver que a violência sutil é tão perigosa quanto a violência explícita, ou até pior, pois coloca a vítima em dúvida e a impede de procurar ajuda, como veremos no tópico a seguir.

A tentativa de Ryle de desvalidar o discurso de Lily

Na primeira agressão, Ryle se faz parecer tão surpreso quanto Lily, como se tivesse sido sem querer. Então, quando ela volta a si depois do choque, ele faz questão de reafirmar que os dois fizeram uma bagunça juntos e que foi tudo um grande acidente.

Quando ele a empurra da escada, ela acorda no apartamento dele, com ele cuidando dos seus ferimentos e dizendo que ela caiu. Assim, ele aproveita desse momento em que ela está confusa e frágil para dizer que ele sempre cuida dela quando ela se machuca.

Ou seja, sempre depois de uma agressão, Ryle cria uma narrativa para que ele sempre seja visto como alguém que cuida e não que agride, colocando em jogo a memória e a perspectiva de Lilly. 

A importância da rede de apoio

Quando Lily percebe que estava vivendo um relacionamento abusivo, ela decide sair de casa e seguir com a gravidez sem Ryle. E algo que foi muito importante para que ela continuasse firme na sua decisão foi ter tido uma rede de apoio

Mesmo sendo irmã de Ryle, Allysa não duvida de Lily, mas a acolhe e apoia totalmente a decisão da amiga de sair desse relacionamento. 

Além disso, Lily também recebe o apoio de Atlas, que foi o primeiro a perceber os sinais tóxicos de Ryle. Ele acolhe Lily em sua casa e a ajuda a passar por esse momento difícil. 

Por fim, Lily também tem o apoio de sua mãe, que compreende a dor dela e dá todo o suporte para que a filha possa superar a violência doméstica.

Lily e Allysa é assim que acaba
Lily e Allysa | Reprodução

É assim que acaba

Quando a filha nasce, Lily tem mais que nunca a certeza de que deveria se separar de Ryle. Ela percebe a necessidade de quebrar o ciclo de violência doméstica que a cercou durante grande parte da vida, a fim de proteger sua filha e a si mesma.

“É assim que acaba. Nós vamos colocar um ponto final nisso” 

Lily diz essas palavras para sua filha que acabou de nascer, dando um basta naquela situação e fazendo de tudo para que sua filha tivesse uma história diferente.

E é assim que acaba a história desse filme. E é assim que começa, ou melhor, que continua a história de Lily e Atlas.


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