Dengue (GUIA COMPLETO): causas, sintomas e tratamentos

Isabela Furlan Franchello

A dengue é uma das doenças mais frequentes no mundo. Se estima que cerca de 50 milhões de pessoas (distribuídas entre 100 países tropicais) contraiam a doença todos os anos. E nos dias de hoje, com a epidemia da dengue, é mais importante ainda entender sobre essa doença infecciosa.

Por isso, neste texto, nós vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre o assunto. Desde o que é até tratamento e prevenção.

Boa leitura!

O que é dengue?

A dengue é uma arbovirose, ou seja, é causada por um vírus e transmitida por mosquitos, sendo o Aedes aegypti o mais comum.

A doença tem um quadro sintomático geral de dores musculares, febre e possíveis complicações hemorrágicas, dependendo do sorotipo do vírus que contaminou a pessoa.

Diferença entre Zika, Dengue e Chikungunya

A zika e a chikungunya são arboviroses causadas por outros vírus, mas que também podem ser transmitidas pelo mesmo mosquito. Portanto, o que vai diferenciar essas doenças será a apresentação dos sintomas.

A dengue causa febre alta de início repentino, que dura de 2 a 7 dias. Além disso, acompanha dores de cabeça e/ou atrás dos olhos, dores musculares intensas com fraqueza e prostração, erupções na pele e vômitos.

Já a zika se caracteriza por manchas vermelhas na pele, coceira, febre leve e dores musculares ou nas articulações.

Por fim, a chikungunya se apresenta com febre mais alta, dores de cabeça, erupções na pele, dores musculares, dores e inchaço nas articulações dos pés, tornozelos, mãos e pulsos.

Fases da dengue

Após a picada do mosquito, o vírus entra no organismo e começa a se replicar no interior das células do sistema imunológico e nas células dos músculos, o que aumenta a quantidade de vírus, o qual se espalha pelo sangue. Por isso, há intensa dor muscular.

Ao se espalhar pelo sangue, o vírus realiza a sua segunda onda de replicação no interior dos monócitos (um tipo de célula sanguínea de defesa), que mantém uma quantidade de vírus circulantes alta.

Esse evento ativa o nosso sistema imunológico, que começa a produzir substâncias inflamatórias para nos proteger da infecção. E essas substâncias são as responsáveis pela elevação da temperatura corporal, que causa a febre alta — um mecanismo de defesa.

Na primeira semana da doença, a resposta imunológica já começa a agir: as células de defesa do sangue destroem as células infectadas pelos vírus e anticorpos específicos.

A partir do 6º dia de doença, elas neutralizam o vírus. Por isso, o quadro da dengue dura cerca de 7 a 10 dias. Esses anticorpos específicos permanecem no organismo do paciente infectado, conferindo imunidade por toda a vida contra o sorotipo viral que causou a infecção.

Por fim, a forma grave ocorre, no geral, em pacientes que já se infectaram por algum sorotipo do vírus. Ademais, quando há a segunda infecção, a resposta inflamatória do organismo contra o vírus é tão grande que causa, além dos sintomas gerais, vasodilatação intensa.

Esse fenômeno ocasiona o extravasamento do líquido do interior dos vasos para os tecidos, que gera instabilidades no organismo — caracterizando o quadro grave de dengue.

Confira abaixo detalhes sobre cada fase:

febre da dengue

Fase febril

A principal manifestação dessa fase é a febre alta (39 a 40°C), de início súbito, com duração entre 2 e 7 dias.

Além disso, acompanha a febre, no geral: a falta de vontade de se movimentar, dor de cabeça, dor no fundo dos olhos, dores musculares e nas articulações. A intensa dor muscular associada à febre justifica a famosa “febre quebra-ossos”, nome popular da doença.

Queixas gastrointestinais são bastante frequentes nessa fase e é comum a pessoa perder o apetite, ter náuseas, vômitos e diarreia. Aliás, metade dos pacientes podem apresentar manchas vermelhas na pele, que costumam surgir no período de diminuição da temperatura e duram, no máximo, 36 a 48h.

Fase crítica

Apenas alguns doentes passam da fase febril para a fase crítica. Como vimos antes, isso acontece com as pessoas que desenvolvem o fenômeno de extravasamento plasmático – a saída de líquido do interior dos vasos para os tecidos, em virtude da vasodilatação causada pela intensa inflamação.

Além disso, a fase crítica se instala durante a defervescência (entre o 3° e o 7° dia após o início dos sintomas). Suas primeiras manifestações costumam ser os sinais de alarme:

  • Dores abdominais intensas e contínuas
  • Vômitos persistentes
  • Pele pálida, fria e úmida
  • Sangramentos no nariz, boca e gengiva
  • Manchas vermelhas na pele
  • Sonolência, agitação e confusão mental
  • Sede e boca seca
  • Dificuldade respiratória
  • Queda da pressão arterial

Diante desses sinais, procure um médico com urgência.

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Fase de recuperação

É a fase na qual o sistema imunológico já consegue conter a replicação viral e o organismo começa a se recuperar da fase febril.

Para os pacientes que evoluíram para a fase crítica, a recuperação ocorre após receberem o tratamento apropriado. Além disso, dentro de poucos dias, o líquido extravasado para o espaço extravascular começa a ser reabsorvido, com melhora gradual do estado clínico.

Qual é a fase mais perigosa da dengue?

A fase mais perigosa, com certeza, é a fase crítica. É nesse momento que o paciente pode evoluir para um choque circulatório, que se instala de 24 a 48 horas após o início do extravasamento de líquido do interior dos vasos.

Assim, essa perda de líquido para fora dos vasos sanguíneos pode ser tão intensa que o sangue fica com um volume insuficiente para circular. Dessa forma, não consegue levar oxigênio e nutrientes para os órgãos e tecidos — isso é o que caracteriza o choque circulatório.

Além disso, o processo ocorre de maneira tão rápida e intensa que os tecidos começam a sofrer falência de função e o paciente pode evoluir a óbito dentro de 12 a 24 horas, se não tratado com urgência.

Mas, como dito acima, não todos os pacientes que passam por essa fase, sendo esse um caso de complicação, e não um caso comum.

Tipos de dengue

Existem três tipos bem definidos, veja a seguir:

Dengue clássica

Considerada a fase febril, na qual a maioria dos pacientes se enquadram.

Dengue hemorrágica

Tem esse nome por causa do extravasamento de líquido que ocorre do interior dos vasos sanguíneos, característico da fase crítica e da qual apenas a minoria dos pacientes com dengue faz parte.

Síndrome do choque da dengue

Se caracteriza pela sequência de fatos que ocorrem devido à complicação da fase crítica, na qual o paciente sofre o choque circulatório.

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Transmissão da dengue

A transmissão da dengue ocorre através da picada do mosquito Aedes aegypti contaminado por algum dos sorotipos do vírus da dengue.

Mosquito

O principal transmissor é o Aedes aegypti, uma espécie muito adaptada ao meio urbano. A fêmea faz a postura dos ovos na água parada, onde se desenvolvem as larvas. Assim, qualquer objeto que seja capaz de acumular água é um excelente criadouro para as larvas dos mosquitos. Por exemplo: poços, caixas d’água abertas, vasos de plantas, pequenos recipientes plásticos ou pneus velhos.

O Aedes aegypti adquire o vírus se alimentando do sangue de um indivíduo infectado, na fase de viremia – quando há replicação viral e disseminação pela corrente sanguínea. Essa fase começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o sexto dia de doença.

Além disso, a transmissão da dengue também pode ocorrer pelo Aedes albopictus, uma espécie de mosquito menos comum na América.

Vírus

O vírus da dengue apresenta 4 sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. É importante saber que o sorotipo 2 tem maior virulência e pode causar a forma grave da doença.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para a dengue estão listados a seguir.

Viver ou viajar para áreas tropicais

Em especial pelos países com altas temperaturas e chuvas rotineiras, pois essas condições favorecerem a reprodução do mosquito em caso de acúmulo de água parada.

Infecção prévia

No caso da contaminação de outro sorotipo, em especial se ele for de maior virulência que a primeira infecção, o paciente pode ter mais chances de evoluir com as complicações do quadro.

Sintomas da dengue

Os sintomas da dengue são causados pela replicação dos viral nas células e pela resposta inflamatória do organismo à presença do vírus no corpo.

Dengue clássica

Os sintomas da dengue clássica são: febre alta associada às dores musculares, nas articulações, dores de cabeça e no fundo dos olhos, com manifestações intestinais. Além disso, ainda podem aparecer manchas vermelhas na pele.

Dengue hemorrágica

Esse tipo de dengue se caracteriza por dores abdominais contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento no nariz, boca ou gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação ou confusão mental, sede e boca seca, dificuldade respiratória e queda da pressão arterial. Portanto, pessoas com esse quadro requerem atendimento médico com urgência!

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Diagnóstico

Se realiza a confirmação do diagnóstico de dengue por meio de exames laboratoriais. Assim, a confirmação depende do intervalo de tempo transcorrido desde o início dos sintomas.

Exames

Até o quinto dia de início dos sintomas, apenas os exames que identifiquem o vírus de forma direta podem ser usados. Como, por exemplo: a pesquisa de antígenos virais, o teste de amplificação gênica (PCR) e cultura de isolamento do vírus. No entanto, a negatividade desses exames não exclui o diagnóstico.

Por fim, a partir do sexto dia de início dos sintomas, o diagnóstico deve ser feito através da sorologia, com pesquisa de anticorpos IgM específicos antidengue (ELISA). Os anticorpos IgG antidengue, se positivos neste momento, refletem apenas contato prévio com o vírus. Portanto, não são úteis para o diagnóstico do quadro de dengue aguda atual.

Tratamento da dengue

O tratamento da dengue depende dos sintomas e as medidas adotadas são exclusivas para oferecer suporte ao paciente, uma vez que não há um medicamento capaz de impedir a replicação viral ou que mate o vírus.

O tratamento, portanto, se baseia no alívio sintomático com ênfase na hidratação, sendo oral nos casos brandos e intravenosa nos casos graves. Assim, se tratam os sintomas conforme aparecem: dores no corpo e de cabeça com analgésicos; febre com antitérmicos; náuseas e vômitos com antieméticos. Além de uma grande ingestão de líquidos para evitar a desidratação.

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Medicamentos indicados

Os medicamentos indicados para a dor e febre são os analgésicos e antitérmicos, como o paracetamol e a dipirona.

Para náuseas e vômitos se pode utilizar os antieméticos, por exemplo a metoclopramida (Plasil®) e ondansetrona (Vonau®).

Mas lembre-se que a automedicação nunca é recomendada. Se consulte com um médico antes de iniciar o uso de qualquer remédio.

Medicamentos que não são indicados

Os anti-inflamatórios, como o AAS (ácido acetil salicílico), ibuprofeno, nimesulida, piroxican e os demais são contraindicados, por conta do risco maior de sangramento, devido ao mecanismo de ação deles.

Como se curar mais rápido da dengue?

Como falamos alguns tópicos acima, não há um tratamento específico que reduz o período sintomático da doença. No entanto, o repouso e a hidratação são medidas que auxiliam na recuperação do organismo.

A média de líquidos por via oral que o paciente deve ingerir é de 60ml/kg em um dia. Ou seja, para um adulto de 70kg, por exemplo, se deve ingerir 4,2L de líquidos, sendo 1/3 desse valor de solução salina (soro de reidratação oral).

Já para pacientes graves, o tratamento com hidratação intravenosa é feito com internação hospitalar.

Quais são os sinais de melhora da dengue?

Os sinais de melhora da dengue clássica são:

  • Ausência de febre durante 48 horas sem uso de medicamento antitérmico
  • Melhora visível do quadro clínico
  • Diminuição das dores
  • Retorno do apetite

Enquanto para os pacientes com a dengue hemorrágica, que estão sob internação hospitalar, os sinais de melhoras são:

  • Ausência de febre durante 48 horas, sem uso de terapia antitérmica
  • Melhora visível do quadro clínico
  • Hematócrito normal (proporção entre as células sanguíneas no exame de sangue) e estável por 24 horas
  • Contagem de plaquetas em ascensão e acima de 50.000/mm3
  • Estabilização hemodinâmica durante 48 horas

Dengue tem cura?

Sim. Após cerca de 10 dias, o organismo freia a replicação viral, começa a se recuperar e os sintomas vão desaparecendo. Ocorre também a formação de anticorpos específicos contra o sorotipo do vírus da dengue que causou a infecção. Por esse motivo, há cura.

Como subir as plaquetas depois de se curar da dengue?

Após o quadro de dengue, é normal que o paciente tenha queda na contagem de plaquetas. Isso acontece por conta da destruição acidental das plaquetas pelas nossas células de defesa ao atingirem o vírus.

Para elevar esse valor de volta à normalidade, recomenda-se aumentar o consumo de proteínas e ferro, pois eles irão auxiliar o organismo na produção de elementos sanguíneos e evitar a anemia.

Alguns exemplos de alimentos são: carnes magras, peixes, laticínios, ovos, feijão, lentilha, beterraba, cacau em pó e folhas verdes, como couve, espinafre e brócolis. Além disso, é vital manter o nível de hidratação adequado.

A dengue pode causar sequelas?

Para o tipo de dengue cujos sintomas são mais leves, após a recuperação, o paciente pode sentir, por alguns meses, um cansaço maior que o habitual, como também dores no corpo ao realizar atividades físicas mais intensas. No entanto, é importante retornar para as atividades habituais para que o corpo se recupere.

Enquanto para os pacientes graves, devido ao maior comprometimento do organismo, podem ocorrer sequelas nos órgãos que foram mais acometidos pelo do vírus. Por exemplo, o fígado, pulmões, coração, rins, entre outros. Todavia, essas sequelas podem ser relacionadas, na grande maioria dos casos, com as fragilidades que o paciente já apresentava antes da infecção.

Prevenção da dengue

A principal forma de se prevenir da infecção da dengue é o combate à reprodução do mosquito transmissor do vírus. Veja abaixo algumas dicas.

Evitar acúmulo de água

A fêmea do mosquito Aedes aegypt deposita seus ovos em água limpa parada. Depois, estes virarão larvas e novos mosquitos que servirão de veículo para a transmissão do vírus da dengue. Por isso, eliminar os focos de acúmulo de água é um cuidado essencial para evitar que o mosquito se reproduza.

Assim, aqui estão algumas ações que você pode fazer na sua casa:

  • Manter os pratos de vasos de flores e plantas com areia
  • Guardar garrafas com a boca virada para baixo
  • Limpar sempre as calhas dos canos
  • Não jogar lixo em terrenos baldios
  • Colocar o lixo sempre em sacos fechados e só o depositar no meio externo no dia da passagem da coleta de lixo
  • Colocar sal nos ralos
  • Manter qualquer recipiente que possa juntar água fechado e limpo

Caso seja identificado um terreno baldio com acúmulo de lixo e objetos com água parada, é importante notificar as autoridades, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Você pode fazer o contato por meio do telefone 0800 642 9782 ou por órgãos locais vinculados à prefeitura do município.

Colocar telas em janelas

Também se podem colocar telas em janelas e portas para impedir a entrada de mosquitos no interior das residências.

Ser consciente com seu lixo

É essencial que todos tenham o compromisso de se desfazer do seu lixo da maneira correta. Por isso, veja essas dicas:

  • Evitar jogar os recipientes soltos no ambiente. Assim, sempre os coloque em sacos de lixo para contribuir com a coleta
  • Amarrar bem a boca dos sacos, para evitar que a água da chuva entre e se acumule
  • Depositar o lixo nos locais adequados para que sejam recolhidos pela coleta de lixo da sua cidade
  • Não jogar lixo em terrenos vazios ou em locais em que a coleta municipal não consegue recolher

O despejo correto lixo é uma responsabilidade individual que tem um enorme impacto na saúde coletiva e, em especial, no combate à dengue!

Usar repelente

Essa é uma medida importante, sobretudo nas estações mais quentes e chuvosas, nas quais há grande quantidade de mosquitos.

Vacina

Recentemente, foi licenciada no Brasil a vacina de vírus vivo atenuado contra os quatro sorotipos de vírus da dengue. A vacina está indicada para pacientes com idade entre 9 e 45 anos e é ofertada por meio de três doses, com intervalo de seis meses entre cada dose (0, 6 e 12 meses).

O histórico prévia de dengue no paciente não inviabiliza a aplicação da vacina, no entanto, por se tratar de uma vacina de vírus vivo, ela é contraindicada para grávidas e imunodeprimidos — pessoas com o sistema imunológico enfraquecido.

Se considera que a pessoa está imunizada só depois de completar as três doses. Nesses casos, a eficácia em evitar um episódio clínico de dengue gira em torno de 60%. Contudo, mesmo quando não evita por completo a doença, a vacina promove uma redução na frequência das formas graves, da ordem de 80 a 95%.

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