Como se faz uma vacina? Testes, quanto tempo e eficácia

Ana Caroline de França

As vacinas mostram ao corpo um inimigo antes desconhecido, que pode ser um vírus, uma bactéria ou outros causadores de doenças. Assim, quando essas ameaças atacarem de verdade o corpo, ele já vai saber como combatê-las. Mas você já parou para pensar como se faz uma vacina?

Nesse texto, você vai entender melhor como surgiram as vacinas e quais os testes necessários para sua fabricação. Além disso, vamos discutir como as vacinas são vitais na saúde pública. Você quer saber quanto tempo uma vacina demora para ficar pronta? Vai ter aqui, também!

médico homem vacinando mulher

História: como surgiram as vacinas?

As vacinas parecem uma invenção muito moderna. Porém, os chineses já trabalhavam com um conceito parecido há mais de 500 anos. Eles estavam buscando uma forma de se proteger da varíola, uma doença que causava feridas muito sérias e matava muita gente naquela época.

Então, eles tiveram a ideia de secar ao sol as feridas de quem estava com essa doença. Em seguida, eles raspavam as feridas secas e aspiravam o que se saía disso. É nojento, mas você pode lembrar que esse é igual ao papel que as vacinas têm: apresentar ao corpo o causador de uma doença, ensinando o corpo a se proteger dele.

Anos mais tarde, um cientista chamado Edward Jenner percebeu um fato curioso. Ele notou que as pessoas que trabalhavam em fazendas, em especial, as com contato direto com as vacas, tinham uma forma muito mais leve da varíola quando se contaminavam. 

Então, Edward injetou pus da ferida de uma pessoa doente em seu próprio filho, uma criança de 8 anos de idade. Por sorte, o menino teve apenas febre, mas não desenvolveu a doença. Estava então criado o conceito das vacinas. A palavra vacina, aliás, vem de vaccinae (que significa da vaca, em latim).

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Como é o processo de desenvolvimento de uma vacina?

Para nossa alegria, fazer uma vacina hoje em dia é bem mais agradável, mas continua dando muito trabalho. Uma grande quantidade de pessoas, lugares e estudos são precisos para que as vacinas cheguem até as pessoas de forma segura e eficiente.

A seguir, você vai saber quais as fases de estudos pelas quais as vacinas passam antes de chegarem até o posto de atendimento de saúde mais perto da sua casa.

Pesquisa inicial e fase laboratorial (ou Fase 1)

A primeira etapa do processo para fazer qualquer vacina é pesquisa. Muita, mas muita pesquisa! Mas o que, na verdade, os cientistas buscam?

Bom, seu corpo tem soldados de defesa de verdade, que você talvez conheça pelo nome de anticorpos. Os anticorpos, junto com outros “soldados” (que chamamos de células de defesa), devem reconhecer e combater corpos estranhos que invadem seu corpo. Dessa forma, eles te protegem de vírus, bactérias e outros causadores de doenças.

Porém, nem sempre os anticorpos e as células de defesa são capazes de combater esses inimigos. Seja porque a ameaça já chega muito forte (se multiplicando dentro das células e rompendo-as logo em seguida, por exemplo), seja porque a estrutura daquele corpo estranho é tão difícil que os anticorpos ficam confusos.

A tarefa dos pesquisadores é descobrir o que colocar na vacina para que os anticorpos consigam reconhecer e combater aquela doença. Em alguns casos, uma parte pequena da superfície do vírus é a chave para que seu corpo entenda que tem algo errado – e aprenda como acabar com isso.

Em outros, é preciso colocar o causador da doença inteirinho dentro da vacina. Há ainda casos em que se fazem vacinas com os causadores disfarçados, encapando-os em uma forma que o corpo já conhece. Essas são algumas das principais técnicas!

Para saber qual dessas táticas vai dar certo, os pesquisadores devem primeiro estudar muito bem como o agente causador da doença age. Depois, é vital que eles decidam qual (e por quê) será a estratégia que eles vão usar. Em seguida, eles desenvolvem um plano para tirar a matéria prima escolhida.

vacina

Ensaios não-clínicos (ou Fase 2)

O próximo passo é testar a matéria prima junto a um adjuvante. Ou seja, algo como um solvente, que ajuda a vacina a entrar no seu corpo e a ser eficiente. Isso serve para saber, de fato, se a estratégia que escolheram vai ser boa para ensinar o corpo a se defender.

Você com certeza já viu em algum filme ou série os cientistas testando substâncias em ratinhos de laboratório ou em pequenos vidros, certo? Essas etapas se chamam ensaios não-clínicos. Elas acontecem para observar se a vacina de fato faz com que anticorpos sejam feitos, e se não tem qualquer efeito ruim demais para o copo.

É triste, mas ainda não há uma forma que reproduza 100% um organismo vivo. Assim, é comum que, após os testes em vidros de laboratório, o próximo passo seja a testagem em animais. Em geral, é aí que entram os famosos ratinhos. 

Apesar de alguns filmes os mostrarem sofrendo, a vida real é diferente em institutos respeitáveis de pesquisa. Uma equipe especializada cuida dos biotérios. Este é o nome que se dá para onde os camundongos vivem super bem e têm veterinários qualificados cuidando deles.

Nessa etapa dos ensaios, avaliam fatores como: o quanto a vacina ajudou na produção dos anticorpos, se os camundongos tiveram sinais como hematomas no local da aplicação, dentre outros.

Se aprovarem a vacina em todos os quesitos nos ensaios não-clínicos, aí sim ela passa para a próxima etapa: a de testagem em pessoas.

Ensaios clínicos (ou Fase 3)

Chama-se de ensaios clínicos as etapas feitas em humanos. Essas pessoas fazem parte do estudo de forma voluntária, e preenchem um formulário em que dizem se tomam remédios de uso contínuo, se possuem doenças crônicas, dentre outros dados. 

Todas essas informações são vitais para que os pesquisadores consigam dizer se os possíveis efeitos adversos têm chance de ter relação com a vacina ou não. Por exemplo: se você sempre tem enxaqueca e relata dor de cabeça após tomar a vacina, há grandes chances desse sintoma não ter a ver com a aplicação.

Eles devem registrar que a vacina não tem efeitos colaterais graves e faz com que os anticorpos reconheçam o causador da doença em questão (pelo menos o suficiente para que a infecção real não seja grave). Assim, a fórmula e seus resultados estão prontos para que as agências regulatórias os avaliem.

Avaliação dos resultados por agências regulatórias (ou Fase 4)

As agências regulatórias são órgãos do governo. Seu papel é fiscalizar o padrão de qualidade de produtos ou serviços de interesse público. Um exemplo que você pode conhecer são as de energia elétrica. É para elas que pagamos a conta de luz todo mês.

As agências que devem liberar as vacinas, em geral, são as mesmas que cuidam da vigilância sanitária do país. Ou seja, a função delas é proteger a saúde de todos. Eles fiscalizam desde os lugares que vendem comida até a composição de novos remédios.

Cada país tem uma diferente agência regulatória para cuidar disso. Aqui no Brasil, esse é o papel da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (também conhecida pela abreviação ANVISA).

Após ter certeza de que a nova vacina funciona de verdade, os profissionais e as empresas envolvidas em seu desenvolvimento precisam submeter vários documentos para as equipes das Agências Regulatórias avaliarem. 

Dessa forma, um outro time especial para isso vai reavaliar tudo que foi feito no processo de criação daquela vacina. Isso inclui desde seus componentes até o número e perfil dos voluntários, além de fatores como custo e tempo para produção das doses.

fila para tomar vacina com enfermeira

Fase farmacêutica (Fase 5)

Essa etapa envolve a parte prática de produção da vacina: sua produção, armazenamento e qualidade do produto final. Essa é a última fase antes das doses saírem para os postos de atendimento e chegarem no povo.

É vital que lugares e pessoas preparados produzam as vacinas, porque um erro na hora de fabricar pode levar na mudança da fórmula toda e prejudicar sua eficácia.  

Quais testes são usados para comprovar a eficácia da vacina?

Os estudos feitos em laboratório, animais e pessoas voluntárias, oferecem uma porcentagem conhecida como eficácia. Para obtê-la, é feito um cálculo muito específico que considera o número de casos da doença alvo em cada grupo, o tempo de acompanhamento dessas pessoas e o número geral de participantes do estudo. 

Imagine que a vacina, para ser eficaz, precise passar por uma série de peneiras (que são os testes). Primeiro, a com furos maiores (não-clínicos). Depois, duas com furos quase invisíveis (testes clínicos e aprovação pelas agências sanitárias). Ou seja: o produto final é muito “fino” (seguro e eficaz) depois de passar por tantas “peneiras”.

No entanto, outros fatores precisam ser considerados para se determinar o quanto uma vacina é eficaz: só a porcentagem não basta. É preciso saber se a proteção vai durar e se a forma de armazenamento é viável, por exemplo. Essas características são avaliadas pela agência regulatória, que garante também que todas as etapas técnicas foram cumpridas da forma certa e oferecem resultados suficientes para provar a eficiência da vacina.

Quais profissionais trabalham no desenvolvimento de uma vacina?

Profissionais formados em Farmácia, Biologia e Biomedicina são vitais para a produção de vacinas e remédios. Eles atuam pesquisando, combinando e observando desde a base do produto final até a forma de aplicação mais efetiva. 

Técnicos de laboratório, professores e pesquisadores também são vitais no suporte e condução dos experimentos, em especial, em vacinas desenvolvidas em órgãos públicos como universidades e institutos de pesquisa.

Além disso, médicos, engenheiros químicos e estatísticos também podem avaliar a formulação e ajudar nos cálculos de eficácia. Para aplicar a vacina, enfermeiros e técnicos de enfermagem são indispensáveis.

Quanto tempo demora para produzir uma vacina?

O tempo de produção de uma vacina varia muito, pois está ligado com vários fatores. Alguns deles são: o quanto de dinheiro está sendo investido no estudo e produção da vacina, quantos são os cientistas direcionando os estudos para criação dessa vacina e qual o número de voluntários dispostos a ajudar com a fase clínica de testes.

Um recente exemplo disso foi a produção das vacinas contra a Covid-19. Entre a descoberta da doença e a aprovação de uma nova vacina, passaram-se cerca de 1 ano.

Essa rapidez foi possível pois inúmeros cientistas de todo o mundo estavam trabalhando com um objetivo em comum. Além disso, muito dinheiro foi investido (afinal, todos os países estavam ansiosos por pelo menos uma vacina) e milhares de pessoas se voluntariaram para a fase clínica de testes.

criança tomando vacina

Importância da vacinação para a saúde pública 

Quando um número grande de pessoas se vacina, o organismo causador daquela doença não tem chance de desenvolver novas estratégias de sobrevivência. Isso pode parecer muito avançado, mas mesmo vírus ou bactérias são capazes de descobrir como sobreviver melhor e por mais tempo. 

Por outro lado, quando muitas pessoas não tomam vacina, o agente causador da doença encontra vários “lugares” para testar e melhorar suas estratégias. Os movimentos anti-vacina, que ganharam força nos últimos tempos, fizeram com que menos pessoas fossem imunizadas. O que se observou foi a volta do sarampo e de outras doenças que já praticamente não existiam mais no Brasil.

Assim, se vacinar acaba tendo um impacto bem grande não só no corpo que foi imunizado, mas em toda a sociedade na qual ele está inserido. Quando você se vacina, impede que a doença encontre uma nova forma de sobreviver – que pode ser testada justo em quem está pertinho de você… Ou em você, mesmo. 

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