Uma análise psicológica do filme A Ilha do Medo sob a perspectiva de profissionais

Que esse filme faz uma reviravolta com a cabeça de quem assiste pela primeira vez, isso não podemos negar. Mas você quer entender tudo o que aconteceu através de uma análise psicológica do filme A Ilha do medo? 

Então continue lendo esse texto, pois vamos te contar possíveis diagnósticos dos personagens, os tratamentos que são mostrados no filme para esses transtornos e uma dica para aprender mais sobre psicologia e entender os próximos filmes e séries a que você assistir sobre transtornos mentais.

Aproveite a leitura!

Sinopse do filme

No filme, A Ilha do Medo, acompanhamos o detetive Teddy Daniels e seu assistente Chuck Aule, que vão para uma ilha onde está localizado um hospital psiquiátrico. Eles vão para lá para investigar uma das pacientes, que desapareceu de forma misteriosa. 

Contudo, o real objetivo de Daniels é investigar um dos pacientes que está internado lá por ter assassinado sua esposa dois anos antes. Durante o filme, ocorrem várias reviravoltas, e descobrimos que ele na verdade é um dos pacientes do hospital.

Vamos então, a análise psicológica do filme “A Ilha do Medo”?

Teddy Daniels é detetive ou um paciente do hospital?

Todo o filme se passa na perspectiva do protagonista Teddy Daniels. A história o apresenta como um detetive contratado para investigar o sumiço de Rachel Solando, uma paciente do hospital psiquiátrico localizado numa ilha isolada.

Contudo, sua real intenção ao ir para esta ilha é descobrir sobre um dos pacientes internados neste mesmo hospital, que é o assassino da esposa dele.

Ao longo do filme, é normal que o espectador fique confuso sobre o que está acontecendo, pois em alguns momentos, pode parecer que todos na ilha estão tentando enganar Teddy e seu assistente, e esconder a verdade sobre o hospital. Contudo, em outros, acreditamos que é ele quem tem algum tipo de transtorno.

Mas afinal, quem está falando a verdade?

A princípio, se prestarmos mais atenção, podemos notar que ao longo do filme há alguns “erros”, que na verdade se tratam de alucinações do próprio Teddy (como quando ele interroga a mulher que toma um copo “invisível” de água).

Então, este é um dos sinais de que não se pode confiar nos olhos de quem narra a história. Ou seja, todas as teorias que ele cria sobre estarem querendo prendê-lo por descobrir a suposta verdade na ilha são, na verdade, o próprio Andrews negando a sua realidade.

E essa ideia de um narrador não confiável é muito interessante, sendo um tipo de questão muito debatida nos estudos literários, por exemplo. Afinal, se a história é contada em primeira pessoa, quem garante que ela está falando a verdade?

Esse recurso é usado em muitas obras, como em Dom Casmurro e a série You.

Se Daniels é um paciente, qual transtorno ele tem?

Como estamos falando de uma análise psicológica do filme A Ilha do Medo, e todos os personagens são fictícios, não é possível fazer um diagnóstico preciso, afinal, esse tipo de produção não tem o intuito de representar fielmente a realidade.

Contudo, fizemos algumas análises dos sintomas que o personagem apresenta, e é possível que ele tenha alguns desses transtornos:

TEPT

Ao longo do filme, podemos ver as memórias de Teddy de quando era um soldado na Segunda Guerra Mundial. Então, por ter vivenciado tantos atos violentos e situações traumáticas nessa fase de sua vida, é possível que ele tenha desenvolvido o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. 

De acordo com o DSM-V e classificado como o CID F43.1, os sintomas de TEPT incluem flashbacks do evento traumático com qualidade alucinatória, e hipervigilância em proporções paranoides.

Esquizofrenia

De acordo com o DSM-V, há um espectro para Transtornos psicóticos e Esquizofrenia, que inclui esquizofrenia, outros transtornos psicóticos e transtorno (da personalidade) esquizotípica. 

Assim, todos esses transtornos podem apresentar delírios, alucinações, pensamento e fala desorganizada, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos, dos quais muitos são vistos em Daniels.

Rachel Solando… ou seria Dolores Chanal?

Neste filme, o espectador pode ficar confuso em vários momentos, e os conflitos com os nomes Rachel Solando e Dolores Chanal é um deles. Mas calma, vamos explicar a relação entre estas duas mulheres.

No início do filme, Rachel Solando, a paciente desaparecida, estaria lá por ter matado seus três filhos afogados, mas tinha a crença de que vivia com a família e precisava ir para casa com eles. Eles a encontram dentro do próprio hospital, e ela começar a falar para Teddy pistas para continuar sua real busca. 

Já Dolores Chanal seria a ex-esposa de Tedy. Ela aparece a ele em sonho, e ele sempre tenta a abraçar e dizer que a ama, contudo ela sempre vira cinzas.

Qual a relação entre as duas?

Ao final do filme, descobrimos que Rachel Solando e Dolores Chanal são, na verdade, a mesma mulher. Seus nomes seriam um simples anagrama, assim como os nomes Edward Daniels e Andrew Laeddis.

Portanto, tudo não passa de uma das criações de Daniels (ou Laeddis), para negar a sua realidade: sua esposa foi quem afogou seus três filhos, e foi ele quem a matou logo em seguida. Por isso, ele se sente responsável pela morte dos 4, e cria toda a história de que é um detetive, assim, não precisa encarar sua realidade.

Dolores Chanal teria algum transtorno?

De novo, não há como fazer um diagnóstico exato com base apenas no que o filme mostra. No entanto, se analisarmos os sintomas mostrados no filme pelo DSM-V, poderíamos chegar a um possível diagnóstico de depressão.

Isso porque, os sintomas, de acordo com o DSM-V são “presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam de forma significativa a capacidade de funcionamento do indivíduo”.

Portanto, no caso de Dolores, vemos que ela apresentava uma grande tristeza profunda, e em uma ocasião, ateou fogo ao próprio apartamento em tentativa de suicídio.

Os tratamentos usados em A ilha do medo

Ao longo do filme, vemos vários tipos de tratamentos diferentes sendo aplicados. Assim, é válido destacar que o longa se passa na década de 50, quando os tratamentos de doenças mentais ainda eram bem limitados e muitas vezes cruéis. Sendo que muitos deles hoje são considerados antiéticos.

Então, vamos falar um pouco de cada um deles:

Medicação

Em algumas cenas do filme, podemos ver Teddy tendo problemas com alucinações, e, no início do filme, também o vemos passando mal no barco. Ao que tudo indica, ele estava sofrendo dos efeitos de abstinência dos medicamentos, que foram interrompidos para o outro tratamento que vamos falar adiante.

É bem provável que Andrews fazia uso do Clorpromazina, um remédio muito comum na década de 50 para tratamentos de esquizofrenia e estados psicóticos ou de humor maníacos.

Psicodrama

O tratamento elaborado pelo psiquiatra de Daniels, Doutor Sheeran, é uma abordagem da terapia, chamada de psicodrama, que consiste em tentar trazer o paciente a sua realidade por meio de uma “encenação”.

No caso de A ilha do medo, eles dão vida a toda a criação de Andrew, e ao longo do tempo vão acrescentando elementos que remetem à verdadeira realidade dele. Isso foi feito na tentativa de fazê-lo associar com a sua vida real e voltar a aceitá-la.

Lobotomia

O último “tratamento” citado no filme é a lobotomia, uma solução extremamente cruel e invasiva. Ela consiste em dividir os lobos frontais direito e esquerdo de todo o encéfalo, para deixar o paciente mais “dócil”.

Além de ser bem agressivo, é um procedimento que, em muito casos, acabava limitando a autonomia da pessoa, que se tornava incapaz de se comunicar, andar e fazer qualquer atividade sem ajuda.

Hoje em dia não se realiza mais a lobotomia, pois a medicina entrou em um consenso de que era uma cirurgia ineficaz e desumana. Então, agora se usam de soluções muito melhores para o tratamento de transtornos mentais.

Quer entender melhor a perspectiva da psicologia?

E aí, gostou dessa análise psicológica do filme A Ilha do Medo feita pelos especialistas da Eurekka?

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Referências:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV. Manual Diagnóstico e Estatítico de Transtornos Mentais. Porto Alegre : ARTMED, 2014, 5a.

Equipe Eurekka

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