Análise de Psicopata Americano: o mito do homem corporativo
Equipe Eurekka
Lançado no Brasil no ano 2000, o filme Psicopata Americano ainda dá muito o que falar, seja pela atuação quase perturbadora de Christian Bale ou pelo final que deu um nó na mente de muita gente!
Mas a verdade é que, por trás da violência e do transtorno de Patrick Bateman, essa história apresenta ainda muitas camadas, críticas e sátiras, criando uma teia complexa que envolve toda a narrativa.
E se você quer saber mais sobre essas nuances do filme, continue com a gente e leia esta análise de Psicopata Americano até o final! 🔎
Índice
A história do filme
Em Psicopata Americano, Christian Bale é Patrick Bateman, um homem jovem e bonito que trabalha no coração corporativo de Manhattan: Wall Street.
Aparentemente ele é apenas um homem comum vivendo no ritmo frenético dos anos 80, mas, por trás da máscara, ele é um serial killer vagando livremente pelas ruas de New York, fazendo muitas vítimas pelo caminho.
Mas, com o decorrer da narrativa, vamos percebendo certos detalhes escondidos que fazem do filme não só uma comédia de terror ácida, mas também uma crítica brutal.
A obra cinematográfica foi baseada no livro de mesmo nome, publicado em 1991 pelo escritor Bret Easton Ellis.
Análise de Psicopata Americano
Sabe aqueles fios importantes da história que falamos ali em cima? Então, nessa análise de Psicopata Americano, vamos falar sobre esses detalhes importantes para a construção da trama e do personagem Patrick Bateman.
Veja agora!
Os crimes na década de 80
O primeiro ponto é que a história de Psicopata Americano se passa no ano de 1987 e, na vida real, a década de 80 foi marcada por uma onda gigantesca de serial killers nos Estados Unidos.
Pesquisas feitas por especialistas mostram que crimes cometidos por assassinos em série começaram a subir nos anos 60, mas foram nos anos 80 que eles disparam.
Segundo o historiador Peter Vronsky, que se tornou um dos grandes estudiosos dos serial killers após se encontrar com um, existem alguns possíveis motivos para esse aumento, sendo alguns deles:
- Os danos da Segunda Guerra Mundial, já que muitos assassinos em série eram crianças na época dessa guerra.
- A cultura pop pós-guerra, como as pulp fiction, que eram extremamente sexualizadas e violentas. Assim como as revistas true crime.
Além de outras questões levantadas também por outros pesquisadores, como o crescimento das cidades norte-americanas, o desenvolvimento de estradas e os grandes índices de mudanças. Tudo isso tornava mais fácil a movimentação de assassinos.
Então, o filme leva em consideração esse fator real e contextual, o qual situa nosso protagonista justamente nessa época, como um fruto de seu tempo.
A crítica aos Estados Unidos na década de 80
E o segundo ponto, também muito importante, é a crítica ao modo de vida de uma classe em específico na época. No filme, nós podemos ver que Patrick e todos os seus amigos seguem um padrão: todos são brancos, de famílias ricas e vieram das melhores universidades.
Dentro e fora do trabalho, esses homens esbanjam dinheiro e competem em tudo, vivendo em clima de rivalidade. Como, por exemplo, quem consegue uma mesa no restaurante mais exclusivo.
A ganância transpira em cada um deles, principalmente em Patrick. E aqui há um ponto chave: o filme nos mostra que o impulso assassino de Patrick está intimamente ligado com o materialismo e a inveja.
A primeira vez em que o desejo de matar de Patrick aparece de forma intensa é quando seu colega lhe mostra um cartão de visita, que Patrick julgou ser melhor que o seu.
Assim, o desejo de ser sempre o melhor e ter tudo que fosse mais luxuoso desencadeia o ataque de fúria e raiva, que é descontado no morador de rua, na garota de programa, no colega de trabalho e por aí vai.
E a cena em que Patrick se encontra com o morador de rua reforça ainda mais a visão de mundo tão criticada no filme. Cheio de raiva, Patrick diz ao mendigo que ele mesmo é o único culpado por sua própria pobreza.
Assim, podemos ver que a história constrói uma sátira do mundo corporativo daquela época, representada pelos banqueiros de Wall Street. Criando uma outra visão do famoso “sonho americano”.
O transtorno de Patrick Bateman
Como o nome do filme diz, Patrick Bateman seria um psicopata. Porém, precisamos esclarecer alguns mitos e pré-conceitos sobre isso.
Para a psicologia, um psicopata significa alguém que tem alguma psicopatia. O termo exato para o transtorno de Patrick seria Transtorno de Personalidade Antissocial, que, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), apresenta os seguintes sintomas:
- Fracasso em se adaptar às normas da sociedade, levando a repetidos atos que podem fazer a pessoa ser presa;
- Tendência à falsidade, com mentiras repetidas, nomes falsos ou trapaças em geral para ganho ou prazer pessoal;
- Impulsividade ou fracasso na hora de fazer planos para o futuro;
- Irritabilidade ou agressividade, a ponto de ser violento de forma física com os outros;
- Descaso pela segurança dos outros e/ou de si mesmo;
- Ser irresponsável a ponto de, de forma repetida, perder o emprego e ficar com dívidas;
- Não sentir remorso ou culpa ao ferir, maltratar ou roubar os outros, em geral com alguma desculpa junto (“você estava pedindo”, “agora aprendeu a não bobear”).
A maioria desses nós podemos encontrar em Patrick, certo? Porém, é preciso lembrar que o filme é uma sátira voltada para a ficção, ou seja, não revela a realidade de quem tem esse transtorno, uma vez que é voltada para o exagero.
O desprezo e a violência contra as mulheres
Patrick Bateman tem atitude agressiva com todos, demonstrando sempre falta de empatia e preocupação apenas consigo mesmo. Porém, com as mulheres isso é ainda pior.
O protagonista sempre mostra que se acha superior às mulheres, as tratando com desrespeito, superioridade e dominação. Isso até mesmo com sua noiva, com a qual ele não demonstra um afeto real, apenas a usa como um objeto.
Um ponto importante sobre isso, que mostra sua total indiferença para com elas, é quando ele se envolve intimamente com as mulheres. Isso porque, no ato, ele não demonstra interesse algum por elas, apenas se atenta ao próprio reflexo.
E esse senso de superioridade também existe em seus colegas, que vêem as mulheres apenas como objetos sem personalidade.
Sendo isso um reflexo real daquele tempo em que as mulheres praticamente não tinham voz alguma na sociedade.
O mundo ilusório
O mundo de Patrick é completamente ilusório e baseado em aparências. Não a algo real, tudo é relativo, tudo depende do quanto ele é melhor que os outros, do que ele aparenta ser e do estilo de vida que sustenta uma fachada.
É um mundo que oscila, tudo pode estar muito bem, até que alguém apresente um cartão de visitas melhor que o seu. Você fica bravo por isso, mas depois se consola quando consegue uma mesa em um restaurante caro.
Assim, Bateman vive eternamente entre o sucesso e o desmoronamento profissional e moral.
A relação do homem e o trabalho corporativo
Ao fazermos uma análise de Psicopata Americano, percebemos que Patrick é a personificação da ganância dos grandes grupos corporativos, que é fruto da cultura do consumo exagerado e individualista.
E essa cultura é retratada na “loucura” de Patrick, o qual fica tão imerso nesse universo que acaba por ter uma fissura na sua mente e caráter. Isso é visto na sua corrida desenfreada, competição exacerbada e ritmo frenético movido pelo mercado. Ele é Wall Street.
Ou seja, no contexto do filme o homem deixa de ser humano, se fundindo com o ritmo do novo mundo do qual ele faz parte.
Qual o sentido do final do filme Psicopata Americano?
No final de Psicopata Americano, tudo é uma grande piada. Todo o filme, todos os assassinatos e todos os acontecimentos não aconteceram de verdade. Tudo se passou apenas na mente de Patrick.
Tanto que, ao confessar que matou Paul Allen, o advogado diz que Paul está vivo e morando em Londres. Colocando em jogo toda a narrativa de Patrick.
No fim, ele é um narrador não confiável, que deixa o telespectador tão confuso quanto sua narrativa.
Seria Patrick Bateman apenas um homem engolido pelo sonho americano?
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