Análise de O Castelo Animado: Corações e Maldições

Equipe Eurekka

O Studio Ghibli tem a capacidade de criar animações diferentes de tudo que conhecemos. Sempre com um toque fantástico e imagens encantadoras, as histórias não só acalentam o nosso coração como nos fazem refletir sobre temas profundos. E, hoje, eu gostaria de trazer uma análise de O Castelo Animado

Com personagens complexos e inesquecíveis, esse filme tem muitas camadas e diversas interpretações, sendo capaz de despertar em cada um de nós um olhar diferente sobre a história.

Então, confira essa percepção que eu tive e depois comente a sua 💛

A história de O Castelo Animado

A animação de O Castelo animado é baseada no livro da escritora britânica Diana Wynne Jones, que foi aluna de grandes mestres e escritores, como Tolkien e C.S Lewis.

E, apesar de o livro e a animação abordarem a história de maneiras bem diferentes, ambas se tratam da história de Sophie, uma menina órfã que, por ser a irmã mais velha, cuidava da antiga loja de chapéus de seus falecidos pais. 

Ela leva uma vida bem pacata, sem muito entusiasmo consigo mesma e com as possibilidades da vida, principalmente por conta da sua insegurança em relação a sua aparência. 

Porém, tudo começa a mudar quando ela conhece Howl, um feiticeiro com fama de seduzir mulheres, o que acaba chamando a atenção da Bruxa das Terras Abandonadas.

Incomodada com o início do contato entre Howl e Sophie, a bruxa lança na menina uma maldição que a transforma em uma mulher velha. Assim, Sophie vai atrás de Howl para pedir que ele quebre a maldição.

Mas é claro que nada é tão simples quanto parece, afinal qual o verdadeiro papel da bruxa na vida de Howl e Sophie? Será que a maldição é realmente uma maldição?

Nessa história, nada é o que parece. 

Uma análise de O Castelo Animado

Essa quebra das nossas expectativas e a complexidade dos personagens são alguns dos fatores que fazem com que a gente se encante com a história. 

Pensando nisso, segue uma análise de O Castelo Animado que eu fiz depois de assistir algumas vezes a animação. 

Confira!

A autoimagem de Sophie

Logo no início da animação, vemos Sophie na loja de chapéus de sua família. Lá, surge o assunto entre sua irmã e algumas mulheres sobre como Howl tinha a fama de partir o coração das mulheres.

Então, Sophie diz que ela não precisaria se preocupar com isso, pois ele nunca iria prestar atenção em alguém como ela. 

E esse é o primeiro indício de como Sophie não era gentil com ela mesma em relação à própria aparência. E, no decorrer da trama, percebemos o quanto ela não se identificava como uma mulher jovem e cheia de vida, mas sim como alguém sem graça destinada a viver no “escanteio”. 

Ou seja, a sua percepção de si mesma a impedia de tentar coisas novas, se aventurar e se permitir ver o mundo ao seu redor.

sophie o castelo animado

Uma maldição que não é uma maldição

Depois dessa primeira imagem que temos de Sophie, acompanhamos ela voltando para casa e, no trajeto, alguns soldados a abordam, não respeitando o “não” dela.

E é aí que vemos Howl pela primeira vez. Ele interfere na situação e salva Sophie. Ele leva ela em segurança andando pelo ar, o que muitas pessoas veem como uma metáfora para o primeiro encontro e a sensação de andar nas nuvens. 

Porém, a Bruxa das Terras Abandonadas fica sabendo desse encontro e decide ir até Sophie no fim do dia. E após um desentendimento entre as duas na chapelaria de Sophie, a bruxa lança uma maldição que transforma a menina em uma velha senhora.

Assim, depois do momento de pânico e surpresa, Sophie decide ir atrás de Howl para que ele pudesse quebrar a maldição. Mas….será que essa maldição foi mesmo uma maldição?

Quando Sophie decide ir ao encontro do feiticeiro ela diz que “não havia mais nada a perder mesmo” e que “aquelas roupas combinavam mais com ela agora que estava velha”. 

Ou seja, no momento em que ela se desapega da insegurança da sua aparência, já que ninguém prestaria atenção em uma velha senhora, ela toma coragem para cruzar a cidade e ir para as terras desconhecidas atrás de Howl.

O que Sophie nunca teria feito enquanto jovem, ela fez enquanto velha. Todas as aventuras que ela viveu e toda a coragem que cresceu dentro dela só aconteceram depois da maldição, já que a aparência não importava mais. 

Então, será que a maldição não trouxe coisas boas para Sophie? 

sophie depois da maldição

O coração de Howl

Quando Sophie enfim consegue encontrar o castelo de Howl, ela se depara primeiramente com Calcifer, um demônio do fogo que depois descobrimos ser o coração de Howl e a alma do castelo, sendo que sem ele tanto o feiticeiro quanto o castelo deixariam de existir. 

Assim, Sophie faz um acordo com ele: ela ajudaria Calcifer a quebrar o feitiço que o ligava ao castelo e, em troca, ele a ajudaria a quebrar a maldição. 

Depois, Howl aparece e Sophie começa a conviver com ele, Calcifer e Markl. E, cada vez mais, podemos ver que Sophie vai tomando espaço no castelo. 

Ela começa a limpar toda a bagunça e colocar as coisas no lugar, ajuda Howl nos momentos difíceis e começa a amar aquela nova vida.

Dessa forma, entendo o castelo como uma metáfora do coração de Howl, já que os dois estão intimamente ligados por Calcifer.

No início vemos que, por mais carismático que Howl seja, ele mantém uma barreira emocional protetiva, mas com o tempo ele começa a mostrar suas fragilidades e deixar que Sophie visse para além da sua beleza, mas os seus lados sombrios, suas dificuldades e medos também.

É só quando Howl se permite ser vulnerável que ele se torna capaz de amar e ser amado. 

qual a mensagem de o castelo animado

As variações da aparência de Sophie

Se você assistiu O Castelo Animado, deve ter percebido que a aparência de Sophie varia entre vários estágios da juventude e da velhice ao longo da história.

Logo após a maldição, ela se vê uma velhinha pequena, encolhida e debilitada. Mas quando ela está ajudando Howl, conhecendo lugares novos com ele, cuidando do castelo e de seus habitantes, tendo momentos felizes e se sentindo corajosa, a sua aparência vai se tornando mais jovem. 

Isso porque a maldição funciona como uma metáfora de como a própria Sophie se via. Ou seja, quando ela estava de fato vivendo e se sentindo jovem, era isso que sua aparência refletia. Quando ela estava sem esperança e se sentindo frágil, ele voltava a parecer uma velhinha.

Ou seja, no fim, não é uma história sobre ser bonita ou feia, velha ou jovem, mas uma história sobre como a Sophie via ela mesma

Além disso, podemos ver que os momentos em que ela está mais jovem são os momentos em que ela está ajudando outras pessoas e/ou está apaixonada. 

E com isso podemos aprender o quanto é importante não apenas olharmos para nossas próprias inseguranças, mas nos doarmos às pessoas que são importantes para nós. Assim, a vida se torna mais leve e vívida. 

sophie e howl o castelo animado

Não existem vilões e heróis 

No início, a Rainha das Terras Abandonadas é apresentada como uma vilã, mas com o desenrolar da história vemos que não é bem assim. 

Depois de ir junto com Sophie para o castelo de Suliman, uma antagonista que teria começado a guerra que é pano de fundo da história, descobrimos que a bruxa usava magia para se tornar mais bonita e mais jovem.

Mas depois que, devido ao cansaço e às fortes luzes do cômodo de Suliman, ela perde sua magia, vemos que ela é apenas uma senhorinha fofa e inofensiva

Então, descobrimos que ela amava Howl desde nova e que nunca conseguiu superá-lo, por isso tinha ido atrás de Sophie transformando-a em uma velha.

E, depois disso, Sophie leva a bruxa junto com ela para o castelo e cuida dela até o fim, sendo que a bruxa também se apega a Sophie e também a ajuda em diversos momentos. 

Ou seja, a vida não é feita de heróis e vilões, mas sim de pessoas com uma história, um passado, dificuldades, sonhos e amores. Todos tentando lidar da melhor forma que podem com suas questões e desejos. 

bruxa o castelo animado

O amor que deixa ir

No final da animação acontecem duas coisas muito curiosas. A primeira é que, depois da destruição do Castelo, a bruxa acaba pegando Calcifer, o coração de Howl, e volta a ficar obcecada pelo feiticeiro. Como se finalmente tivesse conseguido aquilo que tanto queria. 

Porém, se ela continuasse com o coração de Howl nas mãos, ele morreria. Assim, ela o entrega a Sophie, que promete cuidar bem dele. 

Amar não é segurar com todas as forças alguém que não te pertence, mas deixá-lo livre para ir em direção ao que é melhor para ele. 

E a segunda situação também reforça isso. Quando o Espantalho Cabeça de Nabo se transforma em um príncipe típico de conto de fadas clássico, ele acredita que Sophie era o seu amor verdadeiro. 

Porém, ela amava Howl, com quem ela tinha construído uma relação verdadeira, e que não era apenas fruto de um “beijo de amor verdadeiro”.

Assim, ele também a deixa ir. Que é o que o amor faria. 

Assim, aprendemos que nem todas as pessoas que passam por nossas vidas são para continuar com a gente até o fim, e isso não diminui a importância delas. 

Somos marcados pelas pessoas e experiências que nos perpassam e, mesmo que não dure para sempre, o aprendizado e as marcas continuam.

Mesmo se Sophie não continuasse com Howl, ela teria sido modificada para sempre. Ela não voltaria a ser a mesma Sophie de antes de conhecê-lo. Os encontros nos mudam, mesmo que as pessoas não permaneçam.

bruxa das terras abandonadas

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